John – 2 anos antes

O vitoriano estava a bordo de uma nave rumo à Antarius com um pequeno contingente ao seu dispor. O planeta era um dos poucos dentro do acordo que desprezava quase que completamente as regras por ele impostas, só não havia ainda sido banido porque estrategicamente ainda era mais vantajoso manter seus habitantes sob um falso controle do que realmente largá-los a deriva. Era por isso que John estava indo com uma tropa, pois toda e qualquer intervenção feita em Antarius inevitavelmente acabava em confronto. Também era por isso que não simpatizava com tais missões, pois sempre fora contra quaisquer manifestações de violência, mas ele tinha consciência de que, infelizmente, em alguns casos não tinha como evitá-la. O mais irônico de tudo era que justo ele, por ser um pilar, era um dos poucos que poderia ordenar um ataque como o que estava prestes a executar.

Pousaram suavemente nas terras vermelhas e rochosas do planeta. John foi o primeiro a descer seguido pelos seus outros cinco companheiros, uma comitiva já os aguardava do lado de fora da nave.

– O pilar em pessoa veio nos ajudar? A que devemos tamanha honra? – um dos generais espectros falou ironicamente em sua língua rudimentar.

– Não temos tempo a perder, me atualize sobre a situação no caminho. Os confrontos já cessaram? – John respondeu indiferente ao sarcasmo do outro. Tinha esperança de que sua última pergunta tivesse uma resposta afirmativa, mas sabia que seria improvável. O enorme ser que andava ao seu lado soltou uma gargalhada gutural.

– Sabe que se a situação não tivesse no limite jamais pediríamos ajuda ao conselho. – John suspirou, era exatamente o que temia.

As hordas de espectros se atacavam de forma grotesca e desordenada. Arrancavam membros, decepavam, dilaceravam. O vitoriano passou entre os seres fazendo com que os que o atacavam caíssem no chão ao seu simples contato. Essa técnica não os matava, somente os deixavam inconscientes. Aquilo lhe dava certa vantagem em batalha, pois sua habilidade exigia o mínimo de contato para invalidar o oponente, não importando qual o tamanho ou quão agressivo este fosse. Porém, como tudo na vida, isso também lhe cobrava um preço à altura e sua energia era radicalmente drenada a cada investida que fazia. Enquanto isso seus companheiros, que não tinham o mesmo benefício, lutavam de igual para igual entre os espectros. A batalha continuou por horas, o sangue espesso dos espectros banhando o solo já vermelho de sua terra. Apesar de achar estranho o modo como os espectros que tentavam lhe atacar estavam se aproximando, quase como se quisessem fazer isso deliberadamente, John continuava a invalidar um por um, e se sentia satisfeito por isso, pois acreditava que era uma vida a mais que poupava daquela atrocidade. A ferocidade da luta continuava e ele Lamentava cada perda das vidas que tinha trazido consigo para tal missão, estavam cumprindo seus papéis, mas cada um deles merecia um destino melhor do que aquele. Por mais difícil que fosse para entender, ele também olhava com pesar as mortes de cada espectro, era um despropósito o que faziam consigo mesmos. Quando já estava com a visão turva e quase desmaiando de tanta exaustão, a batalha finalmente começou a se dissipar. John se abaixou um pouco, perdendo as forças. Dois que restaram de sua tropa viram seu estado e estavam indo ao seu encontro quando um grupo de espectros os cercaram e, sem prévio aviso, os atacaram e cortaram suas gargantas. O vitoriano demorou um tempo para processar o que estava acontecendo, ele se levantou com alguma dificuldade e virou para a direção onde os últimos de sua tropa jaziam embebidos em seus próprios sangues. Dois espectros se adiantaram e o seguraram, um de cada lado enquanto o resto da horda se abriu para revelar um ser um tanto maior que os outros e mais encorpado, que estava seguindo caminho em sua direção.

– Quem diria que justo você, de todos os pilares, viria ao nosso resgate! – o soberano dos espectros disse soltando um sorriso de desdém e se aproximando de John.

– Mas o quê? – John, ainda zonzo do esforço da batalha, tentou argumentar. – Por quê?

– Temos uma conta a acertar vitoriano – o soberano disse achando graça do olhar de confusão do outro. O espectro começou a andar em círculos.  – Me pergunto o que aconteceria a Antarius se o conselho soubesse que o tão aclamado John morreu aqui. – Ele deu de ombros. – Provavelmente nada! Afinal casualidades acontecem e até mesmo você poderia perder a vida em uma missão no planeta vermelho, não é mesmo? E o conselho é sempre tão justo, como não entenderiam tal situação? – O espectro cuspiu as últimas palavras com nojo. John balançou a cabeça tentando organizar os pensamentos, mas estava tão exaurido que mal entendia o que o outro dizia, quanto mais raciocinar. O ser sorriu com a impotência de seu oponente. – Terei tempo para pensar no que irei fazer com você assim que nosso representante levar as más notícias ao conselho. – Ele se aproximou ainda mais de John e sussurrou em seu ouvido. – Aproveite sua estadia em Antarius, vitoriano! – Depois se dirigiu a seus soldados. – Acabou o teatro. Vamos, levem-no daqui!

Os dois arrastaram John pelo deserto rochoso, ele ainda tentou fazer um último esforço para se desvencilhar dos espectros, mas todas suas energias haviam se esgotado durante a batalha e a única coisa que conseguiu foi mergulhar na inconsciência.

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