O Homem do Espelho

Essa é a história de um homem, uma pessoa comum, que fora registrada ao nascer como qualquer outra. Acordava, comia, trabalhava, dormia, ria e chorava como qualquer um. Porém havia uma única peculiaridade em sua vida, desde sempre, a cada dia que se olhava no espelho ele via alguém diferente. E é este fato inusitado que faz com que não precisemos saber seu nome, pois ele poderia ser único, mas também era muitas pessoas ao mesmo tempo. Ora era um homem bem sucedido de meia idade, ora era uma criança frágil e curiosa, ainda descobrindo o mundo à sua volta, tinham dias que era uma delicada mulher, em outros, um bruta montes ignorante. Havia ainda as ocasiões em que era um velho senhor, com muita sabedoria, mas muitos problemas de saúde também.

Ele já havia se acostumado com sua condição, sempre fora assim! Não se importava realmente com isso. Todo dia de manhã se olhava no espelho e via qual seria sua personalidade do dia e assim levava sua vida. Não era algo fixo, alguns dias ele tinha que se olhar várias vezes no espelho, pois a mudança ocorria mais de uma vez, mas tinham também aqueles momentos onde uma única entidade permanecia por um período maior de tempo. Fosse como fosse, ele sempre soubera lidar com a situação, pelo menos, até conhecer Tatiana. Ela era diferente, ou melhor, ela era igual a todo mundo, o que a tornava muito diferente dele. Tinha um sorriso contagiante, era firme, mesmo tendo aquele toque de jovialidade, era decidida, aventureira, tinha características marcantes, mas sempre era ela mesma e… tinha um nome.

Ele sabia que as pessoas não viam suas mudanças, só ele conseguia. Mesmo assim ficou com receio, pois ela o conheceu quando era um homem bem sucedido. Tatiana ainda gostaria dele quando fosse a jovem criança ou o velho cheio de doenças? Pela primeira vez em sua vida foi buscar ajuda para o que, até então, não considerava um problema. Consultou-se com o primeiro profissional, o qual lhe disse que eram os nervos, depois foi a um segundo e este tinha certeza que ele sofria de algum distúrbio psicológico, um terceiro até lhe recomendou um retiro por algumas semanas. Mas nenhum dos remédios, exercícios ou mesmo o repouso fez algum efeito. Todo dia ele ainda encontrava com uma pessoa diferente no espelho. Até que resolveu tentar outro especialista. Ele não estava muito certo sobre isso, já não acreditava mais que alguém pudesse ter uma solução para seu problema, porém a médica lhe foi tão bem recomendada que pensou: “por que não?”. E foi o que fez. Entrou no consultório, sentou e contou toda sua vida para a jovem doutora de cabelos dourados, que o escutou com muita atenção e cuidado. Depois de todo o longo relato, houve um minuto de silêncio, onde o homem logo pensou: “Acho que ela também não sabe como me ajudar!”. A médica olhou o rapaz com cautela e disse simplesmente:

– Por que tem que ser pessoas diferentes? Por que não podem ser todas você?

O homem saiu do consultório estupefato. Nenhum remédio, nenhuma internação, somente um pequeno questionamento? Como era possível que somente aquilo pudesse curar o seu problema? Custou a dormir, pois passou a noite inteira pensando sobre o assunto. Quando acordou, como de costume, se olhou no espelho, mas o que viu ali o impressionou, era uma pessoa completamente diferente daquelas as quais estava acostumado. Era um homem, com seus quase quarenta anos, sorriso jovial, os olhos refletiam alguma sabedoria e, apesar da expressão bruta, até existiam alguns traços mais delicados naquela face. Quem diria? Estavam todos ali! Todos em um. E, pela primeira vez, ele se reconheceu: Lucas, esse era seu nome.

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