“Próxima estação Faria Lima, desembarque pelo lado esquerdo do trem.”
Rafael bocejava enquanto pedia passagem para as pessoas do vagão. O trem parou e abriu as portas, entre licenças e algumas manobras com o corpo ele tentava fazer seu trajeto para fora do vagão. Um homem alto, com fone nos ouvidos, segurava, com uma das mãos, a barra superior enquanto tamborilava na mesma seus dedos ao ritmo da música que escutava. Ele estava bem no meio do caminho, Rafael pediu-lhe passagem mais de uma vez, mas, ou ele não o escutava, ou não estava preocupado em ser educado. O metrô apitou avisando que as portas se fechariam. Sem mais paciência, Rafael se enfiou entre as pessoas, dando um leve empurrão no rapaz, que o olhou de cara feia, e chegou à plataforma. “Que droga!”, pensou. Já não tinha dormido muito bem, Iris o havia telefonado no meio da madrugada, histérica com alguma coisa, e ele não conseguiu pegar mais no sono depois disso, e agora ainda tinha que ficar aguentando gente mal educada no transporte público?
Quando ele chegou a sua sala, Iris já estava lá andando de um lado para o outro e dando pequenas palmadas para frente e para trás. Assim que ela percebeu sua presença, ela saiu correndo e o puxou pelo braço, fazendo com que ele se sentasse em sua cadeira na frente do computador enquanto ela puxava outra para se sentar ao seu lado. Rafael começou a rir, dissipando todo o mau humor de outrora, sempre achara engraçado o jeito que sua melhor amiga ficava quando estava ansiosa. Ele nem perdeu tempo a cumprimentando ou puxando qualquer assunto supérfluo, sabia que não adiantaria, eram raras as vezes que sua amiga tão cautelosa ficava assim tão empolgada, mas sabia que quando acontecia era melhor deixar que ela liberasse toda a energia acumulada de uma vez. Iris começou a mostrá-lo tudo o que havia pesquisado na noite anterior e qual era a teoria que ela pensava ter encontrado. Conforme passava pelas informações a mente de Rafael dava rodopios com tudo aquilo. Era genial! Lógico que daria certo. Como que não tinham pensado nisso antes? Já entrando de cabeça no assunto ele começou a dar sugestões e apontar algumas falhas nos estudos da amiga e logo os dois estavam em um debate acalorado sobre por onde começariam as pesquisas. Agora quem estava empolgado era Rafael. Não esperou nem terminarem a conversa, se levantou e foi solicitar a Renato uma reunião com a diretoria só para apresentar o projeto e conseguir autorização para desenvolvê-lo. Iris estava em dúvidas quanto a isso, achava que deveriam esperar mais um pouco até que tivessem mais informações, mas Rafael não quis saber de esperar, fez questão dele mesmo juntar tudo o que precisava para vender o projeto à diretoria, sabia como agradar aqueles velhotes do Instituto. Iris poderia até ser engraçada quando estava empolgada, mas Rafael era uma força da natureza quando queria algo, capaz de mover montanhas por seus objetivos.
Os dois voltaram, ao final do dia, da reunião, com sorrisos largos nos rostos. Tinham conseguido a autorização, não seria um projeto oficial, mas quem ligava para isso? Pelo menos poderiam desenvolvê-lo entre os outros trabalhos designados a eles pelo Instituto. Rafael não cabia em si, girava o móbile do sistema solar que tinham pendurado em um canto da sala com uma das mãos e depois o rodava para o lado oposto com a outra, perdido em seus pensamentos. Até que parou, pegou uma caneta em sua mesa e posicionou a mesma sob uma das esferas e ficou fazendo pressão.
– O que está fazendo? – Iris perguntou percebendo o estranho comportamento do amigo.
– Vida nova Iris, vida nova! Plutão nem é mais um planeta de verdade, por que é que ele ainda continua aqui? – Iris começou a rir e foi até o amigo.
– Eu te ajudo! – ela disse já puxando a pequena esfera do móbile enquanto Rafael continuava a pressionar com a caneta.
Quando o pequeno planeta anão se soltou os dois bateram as palmas em um cumprimento e começaram a rir. Rafael foi até onde o objeto tinha rolado e o pegou.
– Não! – Iris gritou quando viu que ele estava prestes a jogar a esfera fora.
– O que foi? – Ele virou-se para ela assustado.
– Não jogue fora! Talvez a gente precise dele um dia – ela respondeu e Rafael dando de ombros, foi até sua gaveta e colocou o pequeno planeta dentro.
– Pronto, nosso Plutão está são e salvo! Agora vamos logo ao que interessa e começar com essas pesquisas. – Iris soltou um sorriso e sem mais demora os dois começaram a trabalhar.