“Aceito!”, era a palavra que Alexia repetia para si mesma há mais de três meses. Fora tudo tão lindo, parecido com um daqueles filmes românticos. Seu restaurante favorito com vista para a cidade, um ótimo jantar, um bom vinho e ao final Maik abrindo a pequena caixinha preta acima da mesa fazendo com que o anel de brilhantes dentro dela reluzisse com o reflexo das velas. Ela estava tão empolgada! Estava correndo com todos os preparativos, tinha menos de um mês para organizar a festa dos seus sonhos. Seu noivo insistira para que fosse o mais rápido possível e ela não viu problema nenhum em atender seu pedido, estavam apaixonados, já moravam juntos, para que esperar? Sua família tinha um bom capital financeiro e seu pai se oferecera para ajudar nas despesas, mas havia muito que Alexia tinha cortado o cordão umbilical, queria caminhar com os próprios pés, e não era agora que ela mudaria tal situação.
– Alexia, você pode vir um minuto a minha sala? – sua gerente chamou rapidamente do outro lado da porta de vidro, já se afastando sem esperar uma resposta. Alexia depositou os tubos de ensaio no suporte ao seu lado e correu atrás dela.
“Absurdo!”, era essa a palavra que pipocava em sua mente agora. Como é que haviam lhe proposto uma insanidade daquelas? Tudo bem, sejamos francos, não era bem uma insanidade e sim algo fantástico, ela nunca imaginaria fazer parte de tal empreitada. Mas justo agora? Impossível! Ela não largaria sua vida, seu noivo e seu casamento para ir se aventurar nas Américas e participar daquele experimento, por mais que a ideia lhe atraísse muito. Sua gerente tinha lhe dado alguns dias para pensar, inclusive, neste exato momento, estava fazendo seu caminho de volta para casa, pois tinha sido liberada mais cedo para “digerir a ideia com calma”. Não tinha no que pensar, já estava decidido, ela não iria e pronto! Mas estava feliz com o tempo livre, poderia fazer uma surpresa para Maik. Ele ainda não estaria no apartamento, talvez ela pudesse cozinhar algo legal para os dois jantarem mais tarde e quem sabe, durante este, até lhe contaria a loucura em que a queriam colocar, o assunto renderia umas boas risadas, com certeza.
Ela entrou e foi direto para a cozinha verificar os mantimentos, quando escutou um barulho. Não era para ter ninguém ali aquele horário! Meio relutante e com um pouco de medo, pegou uma das panelas que estava na lava louças e caminhou silenciosamente até a origem do som. Segurava cada vez mais forte o cabo do objeto que segurava nas mãos a medida que se aproximava da porta do quarto. O que era aquilo? Gemidos? Ela empurrou de vagar a porta entreaberta e entrou. Mal conseguiu reconhecer Maik com a mulher ruiva que cobria seu corpo na cama. O sangue de Alexia começou a ferver. Ela deixou a panela que carregava cair no chão e o barulho fez com que os dois parassem o que estava fazendo. Maik olhou atônito por um momento para Alexia. A estranha que o acompanhava puxou as cobertas para cobrir o corpo exposto.
– Não é o que você está pensando, eu posso explicar! – Maik falou debilmente. Alexia balançou um pouco a cabeça e começou a caminhar pelo quarto, recolhendo todas as coisas de Maik que encontrava pela frente: relógio, celular, roupas espalhadas. Depois foi até a janela, abriu e jogou tudo para fora. – Você está louca? Minhas coisas! – ele disse se levantando e indo até a janela.
– Você tem sorte de serem suas coisas e não você Maik – Alexia respondeu friamente. – Eu vou sair daqui e quando eu voltar eu não quero mais ver nem você, nem suas coisas e nem essa inhazinha ai no meu apartamento. – Ela olhou de lado para a mulher que ainda estava sentada em sua cama, engoliu o ódio que crescia dentro dela e foi caminhando em direção a porta.
– Seu apartamento? – ele rebateu irônico.
– É um direito seu provar o contrário, mas acho que terá um pouco de dificuldades em fazê-lo com os advogados do meu pai envolvidos no caso. – Alexia olhou para a mão e tirou o anel de brilhantes do dedo. – Tome, talvez precise disso se for querer tentar. – Jogou o objeto no chão. O rapaz ainda sustentava um sorriso malicioso no rosto. – Estou falando sério Maik! Quando eu voltar não quero mais ver nenhum sinal de que você um dia existiu aqui, se não a preocupação com a posse do imóvel será o menor de seus problemas – ela disse batendo a porta e deixando os dois sozinhos.
Alexia encarava a metade vazia do armário, sentada no chão com lágrima nos olhos. Já tinha recolhido os lençóis, fronhas e tudo o que tinha na cama e jogado no lixo, mesmo assim não conseguia chegar perto dela sem sentir nojo. Como ela pode ter sido tão burra? Por quanto tempo ele a estava enganando e ela não havia percebido? De repente sentiu que a vida dela era como aquele armário, vazia. Todos seus planos, suas metas e seus sonhos tinham sumido. Ela limpou o rosto com o dorso da mão e se levantou. Mas não seria assim. Se Maik pensava que a vida dela pararia por causa dele estava muito enganado! Ela sabia exatamente que caminho tomar, talvez tivesse sido coisa do destino. Foi até a sala e pegou seu celular dentro da bolsa e discou, não demorou muito para que a outra pessoa atendesse a ligação.
– Oi, sou eu. Pode contar comigo para o experimento!