Dona Dulce é uma mulher simples de 54 anos. Casada há trinta anos com o homem que foi o seu primeiro namorado, mãe de três filhos. Saiu do interior para tentar a vida na cidade grande. Batalhou bastante e continua se esforçando, mas, graças ao seu bom Deus, a vida sempre lhe sorriu. Acorda bem cedo todos os dias, antes de o sol nascer, e chega à casa da patroa antes mesmo de qualquer um que lá reside levantar. Há alguns anos, é a empregada fixa dos Mendonças e, como tal, cuidar da rotina doméstica da residência é a sua função.
– Bom dia, Dona Glória! – comenta ao ver a outra mulher adentrando a cozinha. – Pode sentar que já passo um café para a senhora.
– Obrigada, Dulce! Seu café é o melhor de todos!
Glória, mulher independente de 43 anos. Mora com o segundo marido e a filha de seu primeiro casamento em um bairro de classe média alta da cidade. É psicóloga e tem o próprio consultório, o que possibilita, dependendo de sua agenda, que seus horários sejam flexíveis. Mas, nem por isso, seus dias são tranquilos, pois muitas vezes acaba agendando mais pacientes do que, de fato, poderia aceitar. Mas o que fazer já que, depois da família, o trabalho é sua vida?
– Vitória também irá descer? – Dona Dulce pergunta enquanto serve o café para Glória. Esta, descrente, solta um sorriso.
– Não, Dulce. Acredita que ela está levando a sério aquela história de se tornar uma celebridade da internet? Não sei para quem essa menina puxou! Saiu logo cedo para ir à academia.
Vitória é uma patricinha de 21 anos. Solteira, filha única de pais separados. Está cursando o segundo ano da faculdade de direito, mas isso não lhe interessa, já que seu maior sonho é tornar-se uma influência digital no mundo da saúde e boa forma. Treina todos os dias, mantém uma dieta rigorosa e tem um canal na internet sobre o assunto, onde sempre atualiza seus “fãs” com dicas de moda, saúde e beleza. Apesar de seu namorado e família acharem tudo isso uma loucura, os seus fiéis quinhentos inscritos lhe dizem o contrário. Segundo seus cálculos, não levará muito tempo para que ganhe dinheiro com isso. O problema é que ela nunca foi boa em matemática.
Sente o celular vibrar com uma mensagem e bufa ao lê-la:
“Não esquece que o trabalho de penal é para hoje! Beijos, Letícia.”
Letícia, jovem batalhadora de 22 anos. Solteira, veio sozinha aos dezoito para a cidade e cursa com Vitória o segundo ano da faculdade de direito. Seu sonho é de tornar-se, um dia, uma juíza. Trabalha durante o dia e estuda a noite. Já que precisa pagar suas próprias contas, está sempre atarefada. Se não é o serviço ou a faculdade, são os bicos ou o voluntariado. Não se importa em esforçar-se, pois tem um objetivo e irá alcançá-lo.
Assusta-se quando Valéria, dona da empresa, entra na sala e anuncia:
– Pessoal, precisamos fechar a meta até o final desta semana. Então vamos lá! Conto com a colaboração de todos.
Valéria, uma viciada em trabalho de 38 anos. Divorciada, empresária e bem sucedida. Começou muito cedo no mundo dos negócios e nunca mais parou. Sua vida e prioridades giram em torno do trabalho, talvez por isso seu casamento não tenha dado certo. Está sempre viajando e cuidando de assuntos relacionados à sua empresa, nunca está em casa. Rosa, sua mãe, sempre lhe diz para parar um pouco, talvez construir uma família, mas ela não tem tempo nem para cuidar de um animal de estimação, quanto mais filhos e marido.
Rosa, uma senhora dona de casa de 72 anos. Viúva e mãe de quatro filhos. Aposentada, passa seu tempo cuidando da casa, dos netos e indo ao clube de terceira idade. Faz comidas e doces como ninguém, tanto que se vendesse ganharia um bom dinheiro com isso, mas esse nunca foi seu objetivo. Toda sua vida fez o gosta e sempre lhe deu prazer: cuidar da casa e da família. Passa as tardes com Joana, sua vizinha, trocando receitas ou fofocas.
Poderia, agora, descrever o dia-a-dia de Joana. E continuar contando as histórias de todas as Marias, Adrianas, Carlas, Antônias, Fernandas, Amandas, Julianas, Vanessas, Anas e tantas outras, afinal, somos muitas! Mas, irei parar por aqui, pois, se assim não fosse, este texto não teria fim, já que cada mulher possui uma narrativa e deixa com ela, sua marca no mundo.
Muito bom, Talita.
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