Segunda-feira – Dona Dulce acordou às cinco da manhã, fez café, deixou tudo preparado para o marido e os filhos, se arrumou e saiu. Ainda estava escuro quando pegou o ônibus que a levaria para o centro da cidade. Não conhecia muito sobre sua nova patroa, já que fazia pouco tempo que começara a trabalhar naquela casa. Porém considerava aquele serviço um achado. O apartamento era pequeno, a proprietária morava sozinha e quase não ficava em casa, portanto, Dona Dulce conseguia concluir suas tarefas com apenas metade do dia, o que lhe dava tempo suficiente para passar as roupas de outra cliente durante a tarde. Não pensou que pegaria mais um trabalho nesta altura do campeonato, tinha uma certa idade e já não rendia mais como antigamente, contudo, sabia que faria alguns sacrifícios para conseguir pagar sua tão sonhada casa própria, por isso, não poderia reclamar, pois esse dinheiro extra acabou vindo bem a calhar. Terminou o dia pegando o filho mais novo na escola ao voltar para casa. Fez a janta, arrumou a cozinha e preparou-se para outro dia.
Terça-feira – Acordou às quatro horas da manhã, tinha que sair mais cedo para levar seu filho ao médico antes de deixá-lo na escola e pegar no batente. Antes, arrumou a marmita do marido. Mesmo que ele não fosse trabalhar, Dona Dulce deixaria a comida pronta, pois era sua obrigação cuidar da família. Mas daquela vez fazia a tarefa com gosto, pois depois de ter passado meses sem arranjar um serviço o esposo estava finalmente empregado. A patroa não havia ficado muito feliz com o atraso de Dona Dulce, o qual não fora pouco naquele dia, já que, além dos imprevistos da manhã, aquela era uma de suas casas mais distantes. Tudo bem! Ficaria até mais tarde para compensar a hora e ainda deixaria brilhando o rejunte dos azulejos da cozinha. Teve que pedir para a irmã pegar seu filho na escola. Chegou em casa já eram mais de nove horas e não havia nada para comer, então fez uma janta rápida, arrumou a cozinha e preparou-se para o outro dia.
Quarta-feira – Acordou às cinco horas, fez café, deixou tudo preparado para o marido e os filhos e saiu. Era dia de limpar a casa de uma de suas patroas mais antigas e somente por isso ainda aceitava trabalhar no local por aquele preço, já que aquela era uma das residências mais trabalhosas que tinha em sua lista. Um casal com duas crianças e dois cachorros, sendo o marido, um acumulador. A casa estava sempre um caos quando Dona Dulce chegava e ela somente conseguia se encontrar no lugar por conhecê-lo tão bem. Passava o dia limpando todos os cômodos, os quintais, a sujeira dos cachorros, recolhendo os brinquedos e tirando o pó dos milhares de bibelôs; mal conseguia sair a tempo de pegar seu filho na escola. As quartas-feiras eram sempre puxadas, mas não poderia reclamar, este era o seu serviço e aquela era uma de suas melhores clientes. Chegou em casa, fez a janta, arrumou a cozinha e preparou-se para o outro dia.
Quinta-feira – Acordou no mesmo horário de sempre. Todas as quintas-feiras, Dona Dulce sentava no ônibus e pensava que sua vida poderia ser diferente se as circunstâncias fossem outras. Aquela patroa, outrora, havia lhe feito uma oferta generosa. Iria contratá-la por tempo integral, todos os dias da semana, com carteira assinada e tudo mais, porém, a faxineira recusara. Na época, não havia como ela dormir no trabalho, tinha uma criança pequena e uma família para cuidar, além do mais, o salário era bom, porém a quantia não cobria o que ganhava somando todas as outras casas. Pensava, mas não reclamava. Afinal, era o que sabia fazer desde os dezesseis anos de idade, pular de casa em casa limpando a bagunça dos outros, não serviria para outra coisa. Aos olhos de Dona Dulce aquilo era uma mansão e, por este motivo, sentia que não fazia bem o seu trabalho naquele lugar, já que era impossível para uma só pessoa, em um único dia, limpar uma residência tão grande. Mas sua patroa parecia discordar e sempre repetia:
– Não sei o que seria de mim sem você, Dulce querida! Tem certeza que não quer vir morar aqui?
A diarista toda vez abria um sorriso sem graça e começava a se explicar até ser interrompida pela mulher, dando risada e dizendo que estava só a brincar.
Sexta-feira – Pegou o ônibus antes de o Sol raiar novamente. Era mais um dia de jornada dupla para Dona Dulce, desta vez de manhã passava e fazia o almoço e a tarde limpava outra casa. A propriedade do segundo turno não era particularmente difícil, porém a dona do lugar era uma de suas patroas mais meticulosas. A mulher tinha algumas manias e várias regras, sendo que algumas delas eram totalmente descabidas no olhar experiente da faxineira, mas sua missão era deixar suas clientes felizes e não argumentar, então aprendeu como a dona queria e fazia sem reclamar.
Sábado – Acordou às cinco horas. Os filhos ainda dormiam e o marido levantaria mais tarde para trabalhar, então deixou seus cafés preparados e tomou cuidado para não fazer barulho enquanto se arrumava. A última casa da semana era, também, de uma cliente antiga e, por ser um final de semana, a dona sempre estava por lá. Por um lado era bom ter a patroa por perto, pois tinha alguém com quem conversar durante o dia, mas ela não conseguia deixar de lado a sensação de estar sendo vigiada. Começava lavando a louça e ariando as panelas, depois limpava toda a cozinha: armários, chão, mesa, todas as superfícies e eletrodomésticos. Lavava os quintais e os banheiros do chão ao teto. Arrumava a sala, os quartos e os corredores. Tirava o pó e passava pano. No final do dia, Dona Dulce voltava moída para casa. Cada músculo de seu corpo doía, pelo acúmulo do esforço de toda a semana. Todo sábado era a mesma coisa, chegava em casa no final da tarde, o marido, no sofá, assistia televisão tomando uma cerveja, enquanto o filho mais novo brincava no quintal e o mais velho nunca estava em casa. A louça do almoço ainda estaria lá e a mesa do café não teria sido tirada. Então, Dona Dulce daria um trato na cozinha antes de tomar o seu banho e ter o seu merecido descanso.
Domingo – Já estava acostumada a acordar cedo, não como quando ia trabalhar, mas o suficiente para ser a primeira na casa a se levantar. Dona Dulce fez um café e esquentou na chapa com manteiga um pão amanhecido, depois sentou-se relaxada na mesa e ligou a televisão. Nem sabia em que canal estava, mas deixou porque passava a reprise de um daqueles programas matinais de entrevistas os quais eram comuns durante a semana. O assunto debatido eram mães e suas profissões. A apresentadora pediu a opinião de uma adolescente na plateia:
– Qual é a profissão da sua mãe? – ela perguntou.
– Nenhuma! Ela é dona de casa – a jovem respondeu indiferente.
Dona Dulce olhou para o relógio na parede e todo o serviço por fazer a sua volta, desligou a TV. Sentiu os músculos reclamarem de dor quando levantou da cadeira, mas não poderia perder mais tempo, mesmo que hoje fosse somente dona de casa.