Ela estava com frio e, por mais que tentasse, não conseguia fazer com que seus dentes parassem de ranger. Não obstante, um tremor percorria pelo seu corpo toda vez que um vento soprava mais forte. Nunca gostou do inverno, mas tinha que admitir que aquela viagem estava revelando-se, até ali, uma das melhores que já fizera. Não sabia quanto tempo mais aguentaria esperar naquelas condições, já não sentia mais nenhuma das extremidades, fossem elas das mãos ou dos pés, porém, ele tinha pedido para que ficasse ali e, por mais que tivesse achado tudo aquilo muito estranho, ela obedeceu.
Ele, nervoso, ajeitava as velas. Já tinha conferido mais de mil vezes se as letras estavam na ordem correta, pois queria que tudo estivesse perfeito. O vento, o qual dificultava, e muito, a sua missão de deixar as chamas trepidando vivas, não estava em seus planos, mas com a ajuda do pessoal do hotel conseguiu organizar tudo dentro do seu agrado. Olhou o cenário uma última vez. O fogo em contraste com o chão branco coberto de neve produzia um efeito lindo. Ele nunca fora dado a atos de romantismo e se, em um passado distante, lhe falassem que estaria ali agora planejando aquela ocasião de tal maneira, ele simplesmente riria e diria “jamais”. Mas a beleza da vida sempre fora, justamente, o fato de nada ser constante. Respirou fundo, munindo-se de coragem. Estava na hora de buscá-la.
Ela o avistou ao longe. Pensou em lhe passar um sermão por tê-la deixado esperando por tanto tempo naquele frio, mas, quando o mesmo se aproximou, mal conseguia esconder o sorriso em seu rosto, e sua felicidade a contagiou. Ela corria de mãos dadas com ele a guiando para dentro da floresta novamente. O final de tarde já se fazia presente, o que será que ele estava aprontando desta vez? Por toda aquela viagem seu parceiro havia se comportado de uma forma estranha, estava agitado e ansioso, nem parecia o mesmo, com certeza, tinha algo em sua mente.
Ele não via a hora de mostrar a ela sua surpresa. Afinal, por mais que todas suas esperanças estivessem em uma resposta afirmativa, não fazia ideia do ela acharia daquilo. A incerteza bateu em seu coração, olhou para trás e encontrou com o olhar de sua amada, isso fez com que, imediatamente, todas suas dúvidas se dissipassem. Acelerou o passo, arrastando a moça consigo, não aguentando mais esperar. Assim que viu as chamas na clareira entre as árvores, parou, curvou-se sobre os joelhos e respirou, soltando um longo sorriso.
Ela não acreditava no que estava diante de seus olhos, milhares de velas dispostas no chão branco salpicado de neve iluminavam o ambiente com suas chamas, formando a mais clássica das perguntas: “Casa comigo?”. Ela olhou para o lado com olhos marejados em lágrimas; ele estava sobre um dos joelhos segurando, em sua direção, uma caixinha vermelha a qual continha um anel de brilhantes. A emoção do momento fez com que ela não conseguisse pronunciar uma única palavra, então acenou afirmativamente com a cabeça, sorrindo. Ele levantou-se pegou em sua mão trêmula, colocando o anel em seu dedo.
Eles entrelaçaram seus corpos em um abraço apertado e depois beijaram-se. Talvez aquele fosse o mais profundo elo já trocado entre os dois até então, pois naquele instante em um dia qualquer de inverno, haviam decidido que compartilhariam a vida juntos.