Esta é a história de José, um senhor um tanto quanto ilustre em sua cidade, seja por sua simpatia ou generosidade. Dono de uma pequena quitanda localizada em uma esquina do centro comercial, seus produtos sempre foram de ótima qualidade; frutas e verduras tão frescas que, literalmente, saiam da horta e iam direto para as prateleiras. Conhecido por: “seu zé”, “dono da quitanda”, “homem das frutas e verduras”, ou simplesmente pelo bom e velho“zé”. Contudo, apesar da prosperidade de seu pequeno empreendimento, não era isso o motivo de sua fama. Ele ali nasceu, cresceu, tivera seus amores e desafetos, casou-se e criara seus filhos;não conhecia outra vida, nunca havia saído daquelas terras e, talvez por isso, fosse tão engajado nos problemas da cidade e de seus conterrâneos. Não distinguia credo, raça ou classe social, sempre estava disposto a ajudar quem quer que fosse. Uma alma boa; era o que todos diziam. As pessoas da cidade tinham absoluta certeza de que, em qualquer que fosse o projeto social, a obra de caridade, o ato de bondade ou mesmo o milagre operado, a mão do homem das frutas e verduras estava presente. Sua notoriedade era tanta dentro da comunidade que, certo dia, alguém bateu em sua porta oferecendo-lhe uma candidatura à prefeitura da cidade. Á princípio, José rechaçara a ideia de tão estapafúrdia, porém, quanto mais a novidade era espalhada, mais apoio ele ganhava, o que fez com que o homem da quitanda reconsiderasse sua escolha.
A eleição fora uma das mais tranquilas já registradas na história da cidade, pois seu rival não tivera a mínima chance. Todos sabiam quem escolher e, segundo boatos, até mesmo o candidato da oposição no homem das frutas e verduras, sua fé depositou.
Os primeiros anos do mandato de José foram extremamente prósperos. Ele não se rendera a corrupção e nem aos desejos daqueles que não pensavam no bem comum, seguiu cuidando de suas obrigações do modo simples como sempre fez: sanando os problemas e ajudando a comunidade. Sua gestão fez com que a pequena cidade crescesse, trazendo novas oportunidades e com estas, outros desafios. O vilarejo já não era mais um lugar despercebido pelo mundo, atraía atenções e olhos gananciosos viram o seu potencial, fazendo de tudo para usufruir disso. Homens vestidos em seus ternos caros iam e vinham do escritório de José com propostas descabidas e destilando ameaças quando não conseguiam o que queriam. O comerciante não se rendera, apegara-se firmemente aos seus princípios, enfrentou todos que iam de encontro aos seus ideais, porém, como consequência, não conseguia mais desenvolver o seu trabalho, todos os seus projetos perdiam-se no meio de tanta burocracia e interesses pessoais. O pouco que conseguia passar pelo filtro da politicagem não era o suficiente para satisfazer a população, a qual, agora, sempre queria mais e nunca se dava por satisfeita. Seus colegas de administração, percebendo a decadência de sua influência perante a comunidade, aproveitaram a oportunidade para tentar corrompê-lo e adequá-lo ao sistema afim de conseguirem angariar algum benefício próprio. O prazer que o cargo lhe proporcionara no início não mais existia; vivia frustrado, pois sentia que estava deixando muito a desejar como pessoa e como prefeito.
Apesar de tudo, quando chegou nova eleição,José candidatou-se ao cargo uma vez mais. Tinha esperança de que, com mais tempo, pudesse resolver tudo aquilo que havia saído de errado no mandato anterior. Tomou a decisão pensando somente no bem estar de seu povo e no que ainda poderia fazer em prol de sua comunidade, entretanto, mal sabia ele que, se o objetivo era cumprir tais metas, essa haveria de ser a pior iniciativa que poderia ter tomado.Seus oponentes não mediram esforços para ganhar a corrida rumo ao poder; com todas as falsas acusações e propagandas difamatórias, José foi de salvador para escória em um piscar de olhos, mal teve tempo de pensar em uma estratégia para limpar o seu nome e já havia sido derrotado nas urnas.
O tempo passou e ele voltou a ser o famoso comerciante de frutas e verduras que a todos ajudava. Aos poucos a vida de José voltara aos eixos, tudo graças à curta memória do povo, o qual não mais se lembrava de seu mandato ou não se importava. Eventualmente as sugestões para que ele entrasse na política retornaram, mas agora José já sabia que não havia sido moldado para essa vida. Sua ingenuidade e integridade não o preparavam para todos os jogos de interesses que existiam dentro do meio. Sem dúvidas, o homem das frutas e verduras percebera que fazia mais pela cidade sendo simplesmente o dono da quitanda.