A seleção

Olá, pessoal! Como prometido, aí está o poema que eu me atrevi a escrever para apresentar no nosso encontro de escritores e leitores. Espero que gostem!!!

O vírus passa.

De mão em mão,

De coisa em mão,

De pessoa para pessoa.

Passa, de pessoa em mão.

Passa…

Isolamento se faz necessário.

Tempo de reflexão,

Solidão,

Planejamento ou simples espera?

Será regra?

Ou simples capricho de quem governa?

A economia não aguenta,

A vida anseia.

Mas mesmo com todas as adversidades que nos rodeiam,

De ministro em ministro,

Somos notícia negativa na mídia estrangeira.

E a economia? Será que com isso também não bambeia?

Não podemos parar!

Saiam as ruas! Não tenham medo.

Afinal temos um remédio milagroso.

A imunização de rebanho será nossa salvação!

Serão 2/3 da população infectados,

Dos quais, somente 1% serão descartados.

Mas, e daí?

Somente perecerão os mais debilitados.

Os fortes continuarão.

Isso não é seleção?

Natural.

Evolucionária.

Seria essa nossa soberania

ou pura e simples eugenia?

Lugar de Mulher

                Estes dias deparei-me com uma polêmica que houve na cidade envolvendo uma exposição de fotografias sobre o universo feminino e a prefeitura. Alguns quadros do acervo foram retirados por ordem do prefeito por conter, segundo suas palavras, “manifestações político-partidárias”. As fotos em questão eram do movimento “Ele não”, protesto que ocorreu durante as eleições do ano passado e que foi organizado por pessoas, em sua maioria mulheres, que não concordavam com as ideias e opiniões de um, até então, candidato à presidência. O ato da prefeitura gerou uma discussão: aquilo era ou não uma censura?

                Deixando de lado toda a questão da violação de direitos que o caso envolve, pois o tema já foi bastante debatido, eu gostaria de chamar a atenção de vocês para outro assunto. Que toda manifestação é política, isso é fato, já que elas ocorrem quando um grupo vê seus direitos feridos e luta por eles. Mas dizer que o movimento “Ele não” era partidário? Será? Penso que a indignação daquelas que se manifestaram sempre foi contra as ideias retrógadas, machistas e misóginas proliferadas e não contra um candidato ou partido em específico. É lógico que o alvo acabou sendo o presidencial em questão, já que o mesmo era quem escrachava tais preceitos, porém acredito que a reação seria a mesma qualquer que fosse o candidato ou partido que apoiasse tais ideias.  A questão sempre foi ideológica e não partidária. Então, o ato de retirar da exposição justamente as fotos que retratam tal movimento não seria, além de censura, uma represália contra as mulheres? Se o conjunto de obras relatava o universo feminino, por que o mesmo não poderia conter fotos de mulheres lutando pelo seu direito de não serem inferiorizadas ou ridicularizadas? Ou o universo feminino somente se limita à gestação, beleza e sensibilidade!?  Será que não nos cabe este papel?

               Cada indivíduo inserido em uma sociedade sempre foi definido de acordo com a função que ele, em algum momento de sua vida, passaria a exercer dentro da mesma, e as mulheres não fogem à regra. Lá nos primórdios da humanidade, quando tudo ainda era mato, nossos ancestrais, os hominídeos, viviam por extinto, assim como os animais. Então basta observar grupos das mais variadas espécies para perceber que esta divisão de tarefas já era uma verdade dentro da nossa história. Depois de várias evoluções, o Homo passa a ser Sapiens e com o crescimento do cérebro vem também a noção de solidariedade própria da família. Os casais passam a ser mais estáveis e a cuidar junto dos filhos, que deixam de serem crias. O homem era nômade e vivia em grupos pequenos, sendo o sustento gerado da caça e coleta. Porém, ao contrário da crendice popular, a função de prover o alimento era trabalho de todos, independentemente do gênero. Apesar de os homens da época, comumente, caçarem, isso não significava que mulheres e crianças não pudessem participar. Além disso, a coleta, que era feita majoritariamente por mulheres, compunha 70% da alimentação daquele grupo. Por isso, a ideia de que era função do homem prover e das mulheres somente cuidar dos filhos ou procriar é tão errônea quanto dizer que a Terra é plana. Então, se os primeiros Sapiens já eram tão igualitários, como retrocedemos tanto nesta questão?

           Para responder esta pergunta teríamos que transcorrer por toda a parte sociológica da humanidade, o que nos demandaria muito tempo e conhecimento. Porém, é certo afirmar que a mulher foi subjugada e suprimida de seus direitos como ser pensante ao longo dos anos. Independente de no que recaia a “culpa”, seja ela política ou religiosa, o fato é que a figura feminina acaba tornando-se um alvo constante de perseguições por toda a história da humanidade. Com isso, sua imagem de companheira é deteriorada à mera posse de seu parceiro. Sua utilidade na sociedade passa a ser somente procriar e cuidar do lar, sem direito a opiniões ou desejos. A crença de que a mulher deve se por em seu devido lugar é passada de geração a geração, enraizada tão profundamente na sociedade que até mesmo as próprias mulheres compactuam deste pensamento. Isso acontece por anos a fio, até que as primeiras manifestações a favor do direito da mulher ao voto começam, balançando novamente as estruturas de toda a história.

                Então, lutar por seu direito de ir e vir, de poder pensar, manifestar, criar e ter seu próprio espaço, enfim, de ser tratada como um exemplar da espécie humana como igual faz tanto parte do universo feminino quanto a maternidade. Pensar o contrário seria ressaltar o que queremos tanto, com a nossa voz, acabar.

Qual o motivo?

              Ontem, antes de ir dormir, resolvi dar uma olhada nas notícias e acabei me deparando com uma reportagem sobre uma mulher que havia sido espancada por um homem em uma casa noturna aqui em São Paulo. O caso por si só já me chamou a atenção, porém, confesso que o fato de o mesmo ter ocorrido em um lugar que conheço e que já frequentei no passado, aguçou ainda mais minha curiosidade.  Li toda a matéria e nela a vítima reclamava, principalmente, da falta de assistência oferecida pela casa em tal situação. Eram por volta de quatro horas da manhã quando ela, os amigos e o namorado resolveram ir embora do local, porém, já na saída, a mulher lembrou-se que havia esquecido um casaco na mesa e voltou para buscá-lo, foi quando tudo aconteceu: outra frequentadora do lugar a puxou pelo cabelo e um homem a espancou até que ela perdesse a consciência. Não ficou claro o motivo da agressão, a vítima não sabia se havia esbarrado sem intenção em algum deles ou se acharam que ela queria roubar alguma coisa, já que estava procurando por seu casaco.

                Fiquei revoltada com a situação exposta e por isso caí na besteira de ler os comentários no post criado pela própria vítima em uma rede social. Foi aí que perdi o sono de vez. Então, fica a dica: nunca leia comentários se não quiser passar nervoso! Apesar da minha decepção, não serei injusta, afinal muitas pessoas se solidarizaram com a situação da menina proferindo palavras de apoio, justiça e dando conselhos do que ela deveria fazer sobre o assunto e, felizmente, posso dizer que estes tenham sido a maioria, então, ainda temos salvação! Mas é claro que, como sempre, lá também estavam comentários absurdos ridicularizando a situação ou usando a mesma como argumento para justificar a liberação do porte de armas; e ainda tinham aqueles que faziam com que a vítima se tornasse a culpada. Do meu ponto de vista, todos eles estão tão errados em tantos níveis que se eu debatesse sobre cada um destes argumentos provavelmente este texto viraria um livro. Então, por hora, vou focar somente na culpabilização da vítima. “Mas qual foi o motivo da agressão?”, “Alguma coisa aconteceu, essa história está muito mal contada!”, “Ela deve ter feito alguma coisa, ninguém apanha do nada!”, “Se tivesse em casa, isso não teria acontecido…”, estes, e outros comentários semelhantes, pipocavam no post.

                Fiquei me perguntando qual seria um bom motivo que justificasse uma pessoa espancar outra ao ponto de deixá-la inconsciente, com hematomas, um dente quebrado e um corte na boca que precisou de seis pontos? Mas não consegui pensar em nenhum argumento que, dentro daquela situação, tornasse aquele ato criminoso em algo aceitável. Claro que em situações extremas de ódio como a outra pessoa ter matado, estuprado ou sequestrado alguém que você ama, qualquer um seria passível de tal violência, porém, aparentemente, não foi o que ocorreu na casa noturna, já que somente a vítima saiu machucada. O que aconteceu ali foi um ato de covardia de uma pessoa que se considera superior e mais forte atacando alguém que ele julgue ser mais fraco. Então, que diferença faria se a vítima tivesse provocado ou mesmo pedido, literalmente, para apanhar? A reação do agressor seria menos horrenda se houvesse um motivo que a justificasse como um xingamento? A vítima realmente mereceria ter o rosto deformado dependendo do que tivesse feito ou falado a ele? Vejam que nem estou entrando no mérito do “machismo” aqui, apesar de o agressor ter sido um homem e ter batido em uma mulher sem motivo aparente, fazendo com que o ato, por si só, configure-se, sim, como tal. O que estou debatendo aqui é a necessidade das pessoas em justificar o ato do agressor. Do meu ponto de vista, mesmo que fosse uma briga entre mulheres, nada na situação descrita tornaria correta tal violência. Então para que preciso saber se a vítima xingou a mãe do agressor, esbarrou em seu braço ou mesmo roubou o seu cigarro favorito? Talvez tais justificativas sirvam para a justiça como atenuantes ou agravantes do crime cometido, mas, mesmo nesta situação, o ato não deixa de ser uma transgressão.

                A internet e, principalmente, as redes sociais abriram um espaço no mundo o qual antes não havia, dando voz a todos independente de suas opiniões, ideologias, crenças, modo de ver e levar a vida. E isso de uma forma geral é ótimo, mas sem empatia ou senso crítico, os argumentos acabam tornando-se somente agressões vazias e sem qualquer fundamento, mostrando o quanto nossa sociedade ainda é estereotipada e preconceituosa. Não justifique a violência e não ache que ela só acontece com determinados grupos e pessoas. Hoje a vítima pode ter sido esta moça, mas e se amanhã for você? Qual seria o motivo?

Ficção x Realidade

Neste último sábado (06/07/19) eu tive a honra de participar de uma conversa muito interessante que aconteceu no Espaço Novo Mundo da Livraria Nobel localizada em Guarulhos sobre ficção x realidade. Além de mim, ainda estavam presentes a escritora Rosana Dias Vitachi, autora da trilogia Espelho do Monge, a psicóloga Carla Alberici e a jornalista Fátima Gilioli.

O assunto do debate de sábado transcorreu por diversas vertentes, desde o processo de criação de uma obra de ficção e as características da pessoa que a elabora até a influência da leitura, deste gênero ou de outros, dentro da sociedade e quais os benefícios e influências que esse hábito pode gerar nos indivíduos. Na conversa, foram levantados pontos importantes que nos levaram a questionar algumas atitudes da sociedade moderna num geral, como, por exemplo, a diferença entre consumir a ficção áudio visual e a escrita e o porquê da leitura não ser uma prioridade na vida das pessoas. A abordagem psicológica foi de extrema importância para respondermos a essas e outras questões e entendermos todos os benefícios reais que a literatura fictícia consegue trazer a determinados indivíduos, entre eles: adquirir outro ponto de vista para lidar com os problemas do cotidiano, vivenciar novas experiências, ter um tempo para se desligar da agitação do dia a dia, desenvolver a empatia, o senso crítico, a concentração; entre tantos outros ganhos citados.

A ficção não é um conceito novo e nem um recurso distante da história da humanidade, muito pelo contrário, ela sempre foi utilizada como forma de levar os acontecimentos de uma determinada época ou região a todos os cantos do mundo. Os antigos trovadores e contadores de histórias nada mais eram do que “jornalistas” de uma era onde não havia internet, televisão ou mesmo rádio para propagar as notícias. Eles, por sua vez, utilizavam seus talentos e criatividades para trazer os fatos ocorridos em outros povoados por meio de cantos, poesias e contos; uma realidade recheada de fantasias de suas próprias imaginações para, assim, chamarem a atenção de seus públicos. Não só as informações foram camufladas dentro de contos fictícios ao longo da história da humanidade, mas também temas polêmicos, delicados ou mesmo proibidos. Até mesmo o livro mais vendido e reproduzido de todos os tempos, a Bíblia, utiliza-se de parábolas para levar aos leitores seus ensinamentos. Outro ponto importante que devemos destacar a cerca da ficção é o fato de que algumas de nossas maiores invenções só se tornaram reais porque alguém as imaginou quando as mesmas pareciam impossíveis de serem concretizadas. Fica a pergunta: ela é realmente algo ilusório que somente existe na cabeça de determinadas pessoas ou pensamentos além que talvez possam ter o poder de inspirar a criação? Por estes e outros motivos, dizer que o gênero está distante da realidade ou que somente serve para o entretenimento de quem o consome seria uma grande falácia.

Portanto, não se acanhe ao dizer que seu gênero preferido é a ficção, seja em que categoria estiver: fantástica, científica, moral, entre outras. Pois, de um jeito ou de outro, ela é essencial e sempre estará atrelada a nossa realidade.

O curioso caso da nação que não sabia

Que o reino de Jinga estava em crise, isso era um fato incontestável! Crise moral, ética, civil, econômica e também, por que não dizer, de bom senso? “Não temos estradas…”, “Nossas pontes caem…”, “Está faltando médico…”, “Precisamos de mais justiça e segurança!”, eram as frases de insatisfação mais comuns que ecoavam pelas ruas. O rei então, cansado de tanta reclamação, resolveu fazer um decreto:

“A partir desta data, não serão mais tolerados os ensinamentos de assuntos como: geografia, história, filosofia e literatura. Tampouco serão aceitos em nosso reino, profissionais das áreas acima citadas.”

O povo ficou alvoroçado com a notícia. Declaravam que o rei era muito sábio, afinal quem é que precisava de filósofos e historiadores? A cidade necessitava mesmo era de bons engenheiros, médicos e advogados. E o impacto de tal decisão foi muito positivo, principalmente nos primeiros anos. Quem já exercia as profissões de prestígio continuou a fazê-las e quem foi proibido de executar seus ofícios, trocou de área ou mudou-se para outra cidade. Não havia mais vagabundos pelas ruas recitando poemas ou contando histórias. O monarca estava feliz da vida, afinal, os resultados estavam ali para todos verem. Nunca, em toda a história daquele reino, eles tiveram uma melhor infraestrutura e aquela quantidade absurda de médicos ou advogados em ofício. Porém, pensando bem, nem mesmo o rei poderia dar esta informação com precisão, já que ninguém mais ali sabia sobre o passado daquele lugar. Mas mesmo com todos os benefícios, o soberano logo percebeu que enquanto alguns regorjeavam em júbilo, outros continuavam insatisfeitos. Os que ali produziam grãos e criavam animais logo resolveram reivindicar sua partilha e argumentaram que o povo não precisava de ciências e biologia. Para que ensinar tais assuntos se a natureza só servia para ser explorada e tentar lutar por sua preservação só atrapalhava o desenvolvimento e o progresso da nação? Seguindo esta lógica, o rei decretou:

“A partir desta data, não mais serão tolerados os biólogos e cientistas, tampouco os entusiastas naturalistas que insistem em defender aquilo que não é gente.”

Os pastos cresceram, as produções de carne e cereais triplicaram, bem como as exportações e a economia. Os agricultores estavam certos, aqueles ambientalistas só serviam para defender os direitos daquilo que a gente comia. Quem poderia imaginar que uma medida tão simples traria tantos benefícios? O rei estava em êxtase! Ficaria marcado como o maior monarca que aquela dinastia já teve. Mas que linhagem era aquela? E onde seria marcado? Já não havia mais livros ou registros da história de seu povo, ou mesmo pessoas para contar a sua saga. Isso era inadmissível! Justa agora que, por suas mãos, o reino prosperava? Resolveu, então, outra lei criar:

“A história será permitida, bem como aqueles que vivem dela a contar. Porém somente as façanhas de nossa grande nação ficarão autorizadas, pois o passado pouco importa e o futuro é agora.”

Com isso, grandes odes foram contadas sobre o rei que fora enviado pelos Deuses. E, por causa desta fama, o poder lhe subiu a cabeça e sua vontade, quis tornar absoluta. Não seria difícil, já que em seu reino, ninguém mais pensava por si só. E, por se achar tão especial, um último decreto anunciou:

“Minhas vontades serão lei e tudo que digo e penso, verdades incontestáveis. Aqueles que ousarem contrariá-las, punidos serão por pouco pensar.”

                Você, com certeza, nunca ouviu falar de Jinga e, para ser sincera, eu tampouco. Mas como uma nação que se dizia tão próspera acabou caindo no esquecimento? Alguns dizem que, até mesmo atividades na época tão exaltadas, das quais exigiam raciocínio lógico, eventualmente ficaram defasadas, isso porque os cidadãos, por perderem a habilidade de questionar e interpretar as situações, já não exerciam suas tarefas com eficácia. Outros contam que, por ignorar o passado, seu declínio fora cometer erros antigos que já haviam sido solucionados. Há ainda quem diga que eles aprenderam, da pior maneira, o que conceitos como: aquecimento global, efeito estufa, desmatamento ou preservação de espécies; significavam. Porém, tudo isso é somente especulação, já que nenhum registro desta nação restou. Quase como se ela fosse uma invenção. Não sabemos explicar, mas talvez se soubessem filosofar, teriam conhecido René Descartes com sua máxima “Penso, logo existo”.

Amor que se multiplica

Talvez quem nunca teve um animal de estimação não saiba do que eu estou falando, mas tenho certeza que grande parte dos leitores irão se encontrar neste texto. Afinal, o sucesso de romances como: “Marley e eu” ou “Sete vidas de um cachorro” não é por um acaso. Podem comer todos os seus sapatos e móveis, roubar sua comida, fazer sujeira onde não deviam, dar gastos e preocupação, te prenderem em casa, entre tantos outros contratempos, porém, como resistir às peraltices inocentes, à explosão de alegria que acontece quando você chega em casa, ao companheirismo e amor incondicional? Éh! Como diz uma amiga minha: “Quem é cachorreiro se identifica!”.

Minha história com esses serezinhos de quatro patas começou muito cedo, tanto que se passei algum ano da minha vida sem a companhia de um deles eu nem me lembro! Afinal, minha mãe pegou minha primeira cachorra quando eu ainda era um bebê.

– Tia, fica com ela. Se você não pegá-la, ela vai morrer!

Frase usada pelo menino que bateu na porta de casa com uma bola minúscula de pelos dentro de uma caixa. Não sei se minha mãe ficou com mais dó da criança que implorava ou do animalzinho acanhado que a olhava e, mesmo tendo uma criança pequena, acabou pegando a cadela. O menino não era só marqueteiro, ele realmente falava a verdade, pois a pequena, assim como toda sua ninhada, estava com parvovirose e, por pouco, não morreu. Foi batizada de Xuxa, nome dado a ela em homenagem a minha apresentadora favorita (acredito que tenha sido um nome muito popular nos anos 90), e essa cadelinha reinou absoluta por toda a minha infância e de meu irmão. Naqueles tempos, não era costume criar animais dentro de casa, mas nem por isso os amávamos menos. Ela era dócil, muito amável e inteligente; aguentou duas crianças que a apertavam, esfregavam e cutucavam, sem reclamar. Cresceu junto com a gente e quando já estava entrando em sua terceira idade, para a sua felicidade, meu avô comprou uma chácara e ela começou a nos acompanhar nos passeios até lá. Mas, em uma dessas viagens, no auge de seus setenta anos humanos, a Xuxa resolveu engravidar. Ninguém a avisou que uma gestação em sua idade poderia ser perigosa e, de fato, foi. O parto foi complicado, vários filhotes nasceram mortos e Xuxa teve que fazer uma cirurgia de emergência para tirar o útero. Depois disso, ela não conseguiu mais alimentar sua cria e acabamos fazendo esse serviço por ela. Apesar de toda a tragédia, para nós, que éramos crianças, a situação toda era uma festa. A casa estava cheia de filhotinhos fofos e nós podíamos os alimentar de verdade com chuquinhas de bebê! Que criança não iria gostar disso? Mas, para minha mãe não deve ter sido nada fácil! Lembro um dia que ela teve que correr com a Xuxa para o hospital porque seus pontos se abriram.  Com certeza, foi difícil achar um taxista que aceitasse levar uma cachorra com a barriga aberta no banco do passageiro. Felizmente, mesmo com todos os percalços, tudo deu certo, Xuxa ainda viveu muitos anos mais e nós ficamos com duas de suas filhas: a Docinho e a Lalesca.

Docinho teve uma passagem rápida pela Terra, assim como sua mãe, as duas cadelinhas contraíram parvovirose e ela, infelizmente, não sobreviveu, ao contrário de sua irmã, Lalesca, ou para os mais íntimos, só Lesca mesmo. Seu nome foi dado graças a uma personagem da novela “Sonho meu” (não me pergunte que folhetim era esse, porque não vou me lembrar) e ela foi um dos animais mais inteligentes que já tivemos em casa. Tinha muita força física e pulava alturas enormes. A vizinha morria de medo que a Lesca fosse parar do lado dela do quintal, já que a danada pulava e se pendurava no muro de quase três metros de altura. Ela viveu muito bem com sua mãe em nossa casa e também fez visitas regulares à chácara de meu avô. Se tinha uma cachorra que gostava daquele lugar, era, com certeza, a Lalesca. Já na primeira vez que a levamos para lá, não quis mais voltar. Meu pai teve que, literalmente, correr atrás dela o terreno todo por mais de meia hora para conseguir coloca-la dentro do carro. E foi lá, na chácara da “fertilidade”, que ela também ficou prenha. Mas, ao contrário da Xuxa, sua gravidez e parto foram ótimos, fazendo com que, para o desespero da minha mãe, ela tivesse nove filhotinhos fortes e saudáveis. Foi uma festa vê-los crescer enquanto atingiam uma idade boa para serem doados. Meu irmão e eu colocávamos os bichinhos no chão em fileira para que eles apostassem corrida, como eles ainda não sabiam andar, se arrastavam pelo quintal igual aquelas tartaruguinhas que nascem e fazem seus caminhos para o mar. Quando minha mãe precisava lavar a bagunça, ela os colocava em uma caixinha e prendia a mesma dentro do carrinho de feira, só que a caçula sempre conseguia abrir a portinhola do carrinho, e guiar seus irmãos para a liberdade. Tivemos sorte de todos eles serem adotados, mas foi dolorido vê-los partir. De toda a ninhada, ficamos com uma, justamente com a caçula revolucionária.

Laila ainda teve tempo de conviver com sua avó, Xuxa, e sua mãe, Lesca. Xuxa não tinha sido muito paciente com seus filhos, mas vó é vó, não é mesmo? Então ela deixava com que a Laila mordesse o dia inteiro sua orelha, sem reclamar. Elas ainda eram criadas no quintal, mas agora já tinham mais liberdade de ir e vir, praticamente só dormiam fora de casa. A que minha janela do quarto dava para o quintal, então nós amarrávamos um petisco no final de um barbante e jogávamos do segundo andar para cair em cima do varal e assim conseguíamos controlar a altura em que as iscas ficavam penduradas, enquanto as cachorras tentavam pegar. Chamávamos a brincadeira de “pesca cachorros”, mas, na maioria das vezes, somente a Laila tinha energia suficiente para ser pescada. A Xuxa teve um tumor e acabou falecendo. Engraçado foi parecer que ela havia pressentido sua hora, porque estava conosco na sala e do nada só levantou e se afastou, como se não quisesse nos incomodar com a sua partida. Anos mais tarde, a Lalesca pegou uma doença grave, da qual conseguimos curá-la, mas que a deixou com sequelas e um ano depois ela acabou indo se encontrar com sua progenitora. A morte dela não foi fácil, ela acabou sofrendo um pouco para partir. Eu já estava na faculdade nesse tempo e ficava estudando para as provas enquanto fazia companhia a ela em sua internação. O caso dela era tão delicado que chegamos a cogitar a possibilidade de sacrificá-la, mas só de pensar nisso já doía o coração, então conversei com ela uma noite, agradecendo por tudo e dizendo que ela poderia ir embora, que se fosse sua hora seria melhor assim. No outro dia, ela já havia partido. Com isso só sobrou a Laila, e depois de muitos anos com mais de um cachorro em casa, ela voltou a reinar absoluta. Foi ela que acabou fazendo a transição entre ser criada no quintal e ir para dentro de casa em definitivo, já que ficamos com dó de que ela dormisse sozinha do lado de fora. Mesmo não sendo castrada e frequentando a chácara da “fertilidade” com regularidade, a Laila não teve cria e talvez essa tenha sido a maior frustração de sua vida. Todo cio Laila tinha gravidez psicológica, suas mamas enchiam de leite que tínhamos que secar para não empedrar, ela criava em sua casinha vários ursinhos de pelúcia como se fossem filhotes. Em uma destas ocasiões, até mesmo um rato morto ela chamou de seu filho. Foi duro conseguir tirar o corpo do animal de perto dela, afinal ela era uma mãe super protetora.

Quando já estava em sua terceira idade e achando que iria usufruir de uma velhice com todo o conforto e regalia, surgiu em nossas vidas o Marley. Sim, seu nome foi dado graças ao filme, pois assim como o caos que a tempestade de granizo a qual o trouxe deixou na cidade, ele também o fez em nossa casa e nas nossas vidas. O bicho era incontrolável! Acabou com todos os móveis da casa, derrubava tudo o que via pela frente, mordia nossas pernas insaciavelmente, abusava de todas as almofadas que via, nos enfrentava se tentávamos lhe impor limites, foi expulso de três petshops seguidos por acabar com o banho e tosa, além de, é claro, querer mostrar que era o macho da casa fazendo xixi em cada canto possível. A Laila rosnava para ele mesmo que esse passasse a metros de distância dela, talvez por isso ela tenha morrido de infarto. Mas não podemos reclamar, porque de todos os cachorros que passaram por nossas vidas até o momento, foi ela quem teve uma morte mais tranquila. O Marley foi castrado, mas nem isso melhorou seu comportamento, continuava terrível. Foi só anos mais tarde, talvez tenha sido a maturidade ou a quantidade de remédios que ele toma, que ele acabou ficando mais tranquilo. Com seus quatro anos de idade canina, descobrimos que o Marley era epilético e para controlar suas crises de convulsão o levamos a vários veterinários e especialistas. Hoje em dia ele está estável e, apesar de ser um gorducho rabugento e manco, tem uma qualidade de vida muito boa. Também, fazendo acupuntura toda semana até eu, não é mesmo?! Brincadeiras a parte, o Marley com certeza foi e ainda é o maior desafio que tivemos até então. Mas o amor não se escolhe, ele simplesmente acontece!

E para encerrar essa lista que provavelmente não terá seu fim aqui, não posso deixar de falar da Mel. Ela surgiu dois anos após o Marley, quando um dia resolveu me acompanhar do serviço até em casa. Eu entrei e ela ficou sentada do lado de fora olhando para mim. Minha mãe ficou alucinada porque não queria mais cachorros em casa então ligou para o meu pai pedindo para que ele desse um jeito naquela situação. Eu fui para um curso que fazia na época e quando voltei, mais de onze horas da noite, minha mãe olhou para mim e disse:

– Vai ver lá no fundo o fim que seu pai deu na cachorra…

Quando eu saí, lá estava a Mel, toda feliz abanando o rabo para mim. Ela é possivelmente a cachorra mais meiga e simpática que eu já tive até o momento. Faz amigos por onde passa, as pessoas vão até o portão de nossa casa só para visita-la, acho que se ela concorresse ao cargo de vereadora da cidade, ganharia. É caçadora nata, tudo que se move ela corre atrás e até bem pouco tempo, todas as vezes que precisamos leva-la ao veterinário foi por conta de alguma coisa que ela comera. Em uma destas ocasiões, a Mel apareceu com a boca toda inchada e descobrimos que foi por causa de uma abelha que a picou durante sua caçada. Assim como a Lesca, ela é muito inteligente, só que, ao contrário da primeira, a Mel é extremamente obediente. Meu vô vendeu a chácara, mas mesmo que a propriedade ainda existisse na família, ela não engravidaria lá, porque foi castrada. Porém, com certeza, iria adorar aquele lugar! Atualmente, ela e o Marley são meus filhos peludos do momento e por mais que nos deem gastos e preocupações eu não iria querer a vida de nenhum outro jeito. Afinal, esse amor que se multiplica só quem é “cachorreiro” explica!

Prêmio Guarulhos de Literatura

           Quem mora na região, com certeza, já ouviu falar em Guarulhos. Mas o mais provável é que tenha, no mínimo, feito uma visita rápida à cidade pelo menos uma vez na vida, seja passando de carro por uma das principais rodovias que cortam a mesma ou para utilizar o seu aeroporto. Essa fama não é para menos, já que o município é o mais populoso, depois das capitais, e o 13º mais rico do país.

            Por esses e tantos outros motivos, muitos residentes do local acreditam que passou da hora de Guarulhos perder os hábitos de cidade dormitório e começar a caminhar com as próprias pernas. E foi pensando justamente na valorização e crescimento da cultura na cidade que surgiu o Prêmio Guarulhos de Literatura.

            Tive o privilégio de acompanhar o lançamento da terceira edição do evento que ocorreu no sábado (30/03/19) no espaço Novo Mundo da Livraria Nobel e posso dizer, em primeira mão, que o entusiasmo e a dedicação do idealizador Auriel Filho e seus parceiros eram contagiantes. Na noite em questão, conheci autores e jovens que tinham interesse em participar da premiação, bem como revisores, tradutores e até mesmo alguns patrocinadores do projeto e pude perceber que a iniciativa era algo sério e genuíno.

            O prêmio conta com três categorias: poesia, livro do ano e escritor do ano; além da premiação independente Jovens Escritores. Esta última voltada para estudantes de 11 a 18 anos que queiram ter seus textos publicados em uma coletânea.

            Projetos como esse, que se originam através das mãos da própria população e com recursos privados, nos ensinam que qualquer um pode fazer a diferença, basta ter a vontade de lutar pelo que se acredita.

      Os interessados que residam no estado de São Paulo poderão ler o edital dos concursos e se inscrever gratuitamente até o dia 17 de Maio no site: pgliteratura.com.br.

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Amor de Consumo

Talvez lá no começo, bem no início mesmo, as relações fossem um tanto quanto simples: eu precisava, você tinha e me oferecia e eu comprava. Fazia-se tudo ali mesmo, em estabelecimentos locais. A oferta era de porta em porta e a fama vinha do boca a boca. O “seu” Zé da quitanda sabia sobre sua vida e seus gostos, não porque ele investiu muito tempo e dinheiro para traçar o seu perfil, mas simplesmente, porque você era um morador do bairro e cliente constante. O anúncio era um cartaz feito à mão com as ofertas do dia na porta do estabelecimento e o crediário era o caderninho de fiados que, supostamente, seriam pagos ao final do mês. Ah! Estamos falando aqui do primeiro amor… Que, assim como uma criança a qual começa a descobrir o significado deste sentimento, mostra-se tímido, inocente e fiel. E, para manter-se, não era preciso muita coisa, bastava estar por perto.

A guerra acaba e com ela vem a revolução industrial. A produção em grande escala faz com que as empresas cresçam e, por isso, a concorrência aumenta drasticamente. A relação que até então era pura e pessoal, passou a ser mais determinada e banal, pois já não bastava só estar presente, eram necessários grandes gestos para que as marcas fossem notadas. A criança havia se tornado um adolescente e como tal, o drama e a popularidade eram partes essenciais de sua vida. Os anúncios deixaram de ser caseiros e passaram a ser veiculados em grandes meios, como: jornais, revistas, rádio e televisão. Foi nesta fase também que as serenatas surgiram, ou melhor, os jingles, como eram mais conhecidos no meio. Feitos para a grande massa, sem um público tão determinado, os mesmos fizeram um sucesso estrondoso e mantiveram-se por anos a fio, afinal quem não se sentiria seguro com o frio batendo em sua porta e as Casas Pernambucanas estando lá para aquecer o seu lar? E este relacionamento ganhou um nome, passou a se chamar marketing.

De tanto tentar ter o seu amor e de chamar sua atenção, o marketing acabou tornando-se um namorado ciumento. Para melhor satisfazer e entender o seu público, ele resolve dividir o mesmo em nichos específicos com características em comum, como: gênero, idade, grau de escolaridade, entre outros. E para obter essas informações ele constantemente te perguntava o que você estava fazendo, quais eram os seus gostos, suas preferências e vontades e o que mais fosse interessante saber. Passaram a te ligar frequentemente, fosse para oferecer produtos, fosse para saber um pouco mais sobre você. Não havia um lugar em que fosse onde ele não estivesse presente, fazendo-se notar, sendo isso necessário ou não. Algumas vezes esta sua atitude poderia até ser um pouco irritante, porém, no fundo, tal atenção te mantinha sempre ao lado dele.

A revolução digital mudou o mundo novamente e novos relacionamentos começaram a ser construídos em níveis globais com apenas um clique e o mínimo de interação. A quitanda do “seu” Zé virou um grande hortifrutti que atende não só seu bairro, como o estado inteiro. Ele não conhece mais, pessoalmente, nenhum de seus clientes, porém sente falta daquele relacionamento próximo, onde sabia tudo sobre você e como satisfazê-lo. O marketing então percebe que ele não poderia mais focar somente em nichos, porque mesmo colocando as pessoas dentro de um grupo, cada indivíduo é único. Então como fazer para entender e atender a cada um deles em meio a tantos? Fácil! Basta monitorar todos individualmente. E foi desta maneira que o marketing deixou de ser um namorado ciumento e tornou-se um stalker. Hoje em dia, ele sabe de tudo sobre sua vida sem ao menos precisar lhe perguntar. Com um levantamento de dados, ele consegue descobrir do que você gosta, seus receios, desejos, planos para o futuro, o que assiste, come, escuta; com quem fala, suas opiniões, suas preferências, para onde viajou este ano ou no ano anterior, seus relacionamentos, suas frustrações e tantas outras coisas. Afinal, a internet e seus recursos estão aí para todos. Ou seria somente coincidência aquele anúncio aparecer em suas redes sociais logo após você ter mostrado algum interesse sobre o assunto? Então, não se surpreenda se a sua marca preferida saber mais sobre você do que sua própria mãe. Mas não se preocupe em discutir a relação ou mesmo se questionar se ela é saudável ou não, porque na maioria das vezes esse relacionamento acaba em casamento.

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Tirinhas Entre Dois Mundos

Bom dia, leitores! Segue mais uma tirinha da aventura de nossos personagens em Entre Dois Mundos.

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Vidas Cruzadas

Dona Dulce é uma mulher simples de 54 anos. Casada há trinta anos com o homem que foi o seu primeiro namorado, mãe de três filhos. Saiu do interior para tentar a vida na cidade grande. Batalhou bastante e continua se esforçando, mas, graças ao seu bom Deus, a vida sempre lhe sorriu. Acorda bem cedo todos os dias, antes de o sol nascer, e chega à casa da patroa antes mesmo de qualquer um que lá reside levantar. Há alguns anos, é a empregada fixa dos Mendonças e, como tal, cuidar da rotina doméstica da residência é a sua função.

– Bom dia, Dona Glória! – comenta ao ver a outra mulher adentrando a cozinha. – Pode sentar que já passo um café para a senhora.

– Obrigada, Dulce! Seu café é o melhor de todos!

Glória, mulher independente de 43 anos. Mora com o segundo marido e a filha de seu primeiro casamento em um bairro de classe média alta da cidade. É psicóloga e tem o próprio consultório, o que possibilita, dependendo de sua agenda, que seus horários sejam flexíveis. Mas, nem por isso, seus dias são tranquilos, pois muitas vezes acaba agendando mais pacientes do que, de fato, poderia aceitar. Mas o que fazer já que, depois da família, o trabalho é sua vida?

– Vitória também irá descer? – Dona Dulce pergunta enquanto serve o café para Glória. Esta, descrente, solta um sorriso.

– Não, Dulce. Acredita que ela está levando a sério aquela história de se tornar uma celebridade da internet? Não sei para quem essa menina puxou! Saiu logo cedo para ir à academia.

Vitória é uma patricinha de 21 anos. Solteira, filha única de pais separados. Está cursando o segundo ano da faculdade de direito, mas isso não lhe interessa, já que seu maior sonho é tornar-se uma influência digital no mundo da saúde e boa forma. Treina todos os dias, mantém uma dieta rigorosa e tem um canal na internet sobre o assunto, onde sempre atualiza seus “fãs” com dicas de moda, saúde e beleza. Apesar de seu namorado e família acharem tudo isso uma loucura, os seus fiéis quinhentos inscritos lhe dizem o contrário. Segundo seus cálculos, não levará muito tempo para que ganhe dinheiro com isso. O problema é que ela nunca foi boa em matemática.

Sente o celular vibrar com uma mensagem e bufa ao lê-la:

“Não esquece que o trabalho de penal é para hoje! Beijos, Letícia.”

Letícia, jovem batalhadora de 22 anos. Solteira, veio sozinha aos dezoito para a cidade e cursa com Vitória o segundo ano da faculdade de direito. Seu sonho é de tornar-se, um dia, uma juíza. Trabalha durante o dia e estuda a noite. Já que precisa pagar suas próprias contas, está sempre atarefada. Se não é o serviço ou a faculdade, são os bicos ou o voluntariado. Não se importa em esforçar-se, pois tem um objetivo e irá alcançá-lo.

Assusta-se quando Valéria, dona da empresa, entra na sala e anuncia:

– Pessoal, precisamos fechar a meta até o final desta semana. Então vamos lá! Conto com a colaboração de todos.

Valéria, uma viciada em trabalho de 38 anos. Divorciada, empresária e bem sucedida. Começou muito cedo no mundo dos negócios e nunca mais parou. Sua vida e prioridades giram em torno do trabalho, talvez por isso seu casamento não tenha dado certo. Está sempre viajando e cuidando de assuntos relacionados à sua empresa, nunca está em casa. Rosa, sua mãe, sempre lhe diz para parar um pouco, talvez construir uma família, mas ela não tem tempo nem para cuidar de um animal de estimação, quanto mais filhos e marido.

Rosa, uma senhora dona de casa de 72 anos. Viúva e mãe de quatro filhos. Aposentada, passa seu tempo cuidando da casa, dos netos e indo ao clube de terceira idade. Faz comidas e doces como ninguém, tanto que se vendesse ganharia um bom dinheiro com isso, mas esse nunca foi seu objetivo. Toda sua vida fez o gosta e sempre lhe deu prazer: cuidar da casa e da família. Passa as tardes com Joana, sua vizinha, trocando receitas ou fofocas.

Poderia, agora, descrever o dia-a-dia de Joana. E continuar contando as histórias de todas as Marias, Adrianas, Carlas, Antônias, Fernandas, Amandas, Julianas, Vanessas, Anas e tantas outras, afinal, somos muitas! Mas, irei parar por aqui, pois, se assim não fosse, este texto não teria fim, já que cada mulher possui uma narrativa e deixa com ela, sua marca no mundo.