Não deixe de dar os seus palpites…
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Ficha Técnica – Iris
Conheça um pouco mais sobre a Iris lendo sua ficha técnica.
Amigo Secreto de Natal – Dica 1
Não deixe de dar os seus palpites…
Amigo Secreto de Natal
Fim de ano está chegando e nossos personagens resolveram fazer mais um amigo secreto, desta vez com a turma toda!
Serão 15 personagens e, a partir de amanhã até o dia 24/12 todos os dias às 19h (exceto finais de semana), um deles trará uma dica para que você possa adivinhar quem ele tirou. Então participe da brincadeira deixando o seu palpite, pois, ao final, a pessoa com mais acertos ganhará uma xícara exclusiva da série.
Não se preocupe se ainda não leu o livro ou se não se lembra de algum de nossos heróis, pois, para lhe ajudar, publicaremos as fichas técnicas de cada personagem ao longo das semanas correntes.
Vamos brincar?
***Regras***
– Você poderá dar seu palpite para cada dica ou dar todos eles juntos no último personagem;
– Para cada personagem você poderá dar até 2 chutes, valerá o último deles.
Ex.: no post da Iris eu disse que ela tirou o Rafael, porém conforme recebi mais dicas acabei mudando de opinião, então em um post posterior troquei o meu palpite sobre a Iris e disse que ela tirou o Matheus. Minha resposta válida será o Matheus.
(Esta regra não valerá caso opte por dar um único palpite ao final do jogo)
– Os palpites poderão ser feitos em qualquer dica sobre qualquer personagem. Porém, não esqueça de identificar de que personagem está falando se o mesmo não for sobre quem esta dando a dica do dia.
– Caso haja mais de uma pessoa com o maior número de acertos, a xícara será sorteada entre os mesmos.
– Promoção válida para todo o Brasil e para o Facebook, Instagram e o Blog de Entre Dois Mundos.
Mini-história: Conversa entre homens
Helder seguia devagar até o lugar onde achava que poderia encontrar Matheus. Já estava escurecendo, porém isso não o atrasava. Se aquela viagem tinha lhe ensinado algo, era que ele estava familiarizado com a geografia do lugar. O fato de ter sido tão fácil chegarem até a nave sem John para guiá-los, o assustava, pois aquilo era um sinal claro de que já estavam vivendo naquele planeta tempo suficiente para se acostumarem com o ambiente. Tudo bem que haviam se perdido inúmeras vezes e estavam muito além do cronograma inicialmente estipulado, porém, na noite anterior a sua partida, Helder quase desistira da empreitada com receio de estar arriscando a sua vida e a de seus amigos em uma jornada que poderia guiá-los a um caminho sem volta, então, do seu ponto de vista, se comparado com a alternativa, haviam se saído muito bem. No final das contas, saber que eram capazes de se virarem sozinhos, talvez tivesse sido o único proveito de toda aquela caminhada, já que não haviam conseguido encontrar nada de útil dentro da espaçonave para ajudar Adeline.
O céu passou do cinza avermelhado ao breu sem estrelas em um piscar de olhos, fazendo com que Helder dependesse ainda mais da tocha que trazia consigo. Pegou-se pensando no beijo novamente; ainda conseguia sentir os lábios quentes de Iris contra os seus. Deixou escapar um pequeno sorriso de contentamento. Talvez se ele não tivesse aparecido naquele momento, as coisas poderiam ter tomado um rumo diferente. Não! Não poderia iludir-se, pois mesmo que tivesse se deixado levar pelo momento, sempre soube, no fundo, que ela não corresponderia a sua investida, pois seu coração estava em outro lugar. E a reação de Iris ao flagrante só confirmou suas suspeitas. Agora, lá estava ele, indo atrás daquele por quem ela verdadeiramente nutria algo. Não precisou andar muito para que avistasse entre os rochedos a silhueta do homem que procurava e, assim que se aproximou, sentou-se, deixando uma distância confortável entre os dois. Matheus, sempre alerta, desta vez nem percebera a presença de Helder, tão mergulhado que estava em seus próprios pensamentos.
– A noite está estranhamente calma hoje! – Helder comentou despreocupado. Ele percebeu o corpo de Matheus contrair-se com o susto e logo em seguida, relaxar. Esperou por uma resposta, mas ela não veio. Então despretensioso, continuou: – Você tem um jeito incomum de demonstrar seus sentimentos…
Matheus virou-se e, emburrado, o encarou:
– O que acabou de dizer deveria significar algo?
– Claro que não! A não ser que sinta algo por ela… – Helder disse, sem desviar o olhar do desenho que fazia com os dedos na areia vermelha aos seus pés. Matheus arregalou os olhos por um momento, mas logo se recompôs e bufou.
– O que veio fazer aqui?
– Não é óbvio? Vim buscá-lo – o médico respondeu calmamente. Matheus soltou um sorriso de desdém e levantou-se, postando-se em frente a Helder.
– Não preciso de sua ajuda, sei muito bem me virar sozinho! Não deveria ter deixado as duas, é perigoso! Mas não espero que você entenda isso.
Helder finalmente levantou a cabeça, encarando o outro pela primeira vez desde que chegou.
– Não fui eu quem saiu a esmo por ai.
– Não saí a esmo, estou patrulhando! Alguém tem que fazer, já que outros, claramente, preferem se divertir – Matheus respondeu irritado. Helder sorriu provocativo.
– Então não te afetou em nada o que viu? Confesso que, para mim, é bom saber!
Uma sombra de fúria passou pelos olhos de Matheus e ele lançou suas palavras em um furor cortante:
– Eu não tenho nada a ver com o romance de vocês! – Engoliu em seco e depois, desviou o olhar. – Só acho que deveriam ser mais prudentes, aqui não é hora e nem lugar! – Voltou o olhar novamente para Helder. – Especialmente você! Afinal, foi quem acabou nos trazendo para esta jornada inútil! Não está contente em só perder Adeline? Porque, com certeza, ela não irá sobreviver! E ainda quer arriscar a vida de outros?
Pela primeira vez naquela conversa, Helder se descompôs. Levantou-se em um átimo, aproximando-se de Matheus. As chamas das tochas iluminavam as feições raivosas e o ressentimento estampado nas faces dos dois homens que se encaravam a poucos centímetros um do outro.
– Chega! Entendo que esteja frustrado, porém, não vou deixar que desconte em mim sua raiva, só porque eu tive a coragem de ser sincero com os meus sentimentos e fazer o que você não fez.
– Você não sabe do que está falando!
Helder respirou fundo, acalmando-se.
– Não planejei, simplesmente aconteceu! Mas mesmo que o fizesse, não há lugar e nem hora certa para nada. – Ele suspirou ressentido. – E pensar que, justamente você o qual não sabe aproveitar, tem a oportunidade. – Matheus olhou confuso para ele, mas Helder não se importou em fazer-se entender. – Talvez, antes de pararmos aqui, você nunca tenha sentido uma perda tão significativa em sua vida a ponto de lhe fazer questionar algumas atitudes. Mesmo assim, depois de tudo que passamos, não acredito que ainda não tenha aprendido nada com isso.
Helder olhou para Matheus e logo se arrependeu de suas palavras. Nos olhos do amigo havia uma sombra de tristeza profunda, a mesma que, nos hospitais, via nos olhares dos familiares aos quais contava que o pior havia acontecido com um paciente.
– Vou voltar. Não deveria ficar aqui sozinho, pode haver espectros – Helder anunciou.
Matheus apenas assentiu e sem dizer nada, seguiu os passos de Helder pelo deserto vermelho. Os dois eram habilidosos e mesmo com a pouca luz que tinham, não demoraram a chegar ao destino. Antes de se aproximarem da gruta, Matheus parou e pigarreou, chamando a atenção de Helder e quebrando o silêncio que mantiveram por todo o trajeto.
– Quer dizer que eu ainda tenho alguma chance? – ele perguntou em um sussurro inseguro. Helder sorriu, tal atitude resignada não combinava com o homem a sua frente.
– Isso não sou eu quem deve lhe responder – Helder disse, seguindo caminho e encerrando o assunto.
Só mais um dia no complexo
Já estava me acostumando a acordar com as batidas incessantes de Alexia na minha porta nas manhãs de domingo. Desde a primeira semana no complexo fora assim e até hoje não falhara. Fui até a entrada e abri a porta, lá estava ela parada em suas roupas esportivas com um sorriso de orelha a orelha no rosto.
– Hoje eu não precisei gritar seu nome por horas até que você me atendesse? As coisas estão evoluindo por aqui! – ela comentou soltando um sorriso e já entrando em meu quarto. Dei risada também, nunca adiantava ficar de mau humor com Alexia, ela simplesmente me ignoraria se assim o fizesse.
– Quem tem uma amiga como você não precisa de despertador, Alexia – respondi. Ela deitou na cama e jogou o travesseiro em mim.
– Vai logo se arrumar! Estou prevendo mais suor hoje do que qualquer treinamento físico que tivemos durante a semana. – Fiz uma careta para ela jogando o travesseiro de volta e entrei no banheiro.
Domingo era o único dia livre na semana em nossa rotina de treinamentos, mesmo assim eram raros aqueles em que eu realmente tinha o dia inteiro só para mim. Todas as manhãs Alexia me buscava para fazer uma caminhada pelos arredores do complexo e, apesar de esportes em geral nunca terem sido um dos meus hobbies favoritos, aquelas andanças com ela acabavam se revelando muito divertidas, pois cada dia descobríamos algo novo sobre a propriedade. Nós andamos por mais de duas horas debaixo daquele sol escaldante do Texas, quando me despedi de Alexia só queria tomar um banho e ler algum dos meus livros até a hora do almoço, porém me deparei com Helder e Sakura me esperando na porta de meus aposentos.
– Aconteceu alguma coisa? – perguntei um pouco confusa enquanto me aproximava.
– Eu falei para você que ela tinha esquecido! – a japonesa disse olhando para Helder, depois se voltou para mim. – Nós íamos nos encontrar para definir algumas estratégias para os treinamentos da próxima semana, não se lembra? – Meu rosto enrubesceu no mesmo instante. Como eu poderia ter esquecido daquilo? Helder se aproximou e deu alguns tapinhas em meu ombro.
– Não se preocupe! Está livre agora? Tenho certeza que terminamos tudo antes do almoço. – Acenei com a cabeça e ele piscou para mim. Logo em seguida Helder se virou e começou a andar, fui atrás dele com Sakura correndo ao meu lado.
Sai do refeitório direto para o meu quarto tomar um banho. Que dia! Desde que acordara não tinha parado um minuto sequer e para meu infortúnio não seria agora que esta situação iria mudar, estava quase no horário em que Matheus e eu nos encontrávamos para desenvolver o relatório semanal do Instituto. A biblioteca era uma sala ampla com vários computadores de consulta e mesas redondas para estudos em grupos. Assim que entrei vi Kazuki, Louis e Adeline ocupando uma das mesas com livros e cadernos espalhados por todos os lados.
– Boa tarde! – sussurrei ao me aproximar. Louis e os outros levantaram os olhos dos cadernos.
– Ah, boa tarde, Iris! Veio estudar também? – Louis perguntou abrindo um sorriso simpático. As avaliações finais estavam chegando e muitos de nossa equipe estavam se preparando para elas. Adeline bufou para o primo.
– É claro que não Louis! Você não sabe que ela encontra todo domingo com Matheus para fazer sei lá o quê? – Sua frase soou um tanto irritada e estranhamente aquilo me deixou satisfeita. Adeline virou para o lado me ignorando. – Kazuki, me explique novamente isso aqui e vê se dessa vez faz direito, não dá para entender nada do que você fala! – Ela empurrou um dos livros na direção do japonês. Louis pareceu ficar irritado.
– Adeline, seja educada, ele está nos fazendo um favor. E fale mais baixo, estamos em um local de estudo. – A francesa ignorou os avisos do primo e ele contrariado somente balançou a cabeça.
– Sakura está vindo estudar conosco, talvez ela consiga lhe explicar melhor – Kazuki respondeu tentando se desculpar. Me despedi dos três antes que eu acabasse discutindo com Adeline e deixei com que continuassem com seus estudos, afinal parecia que aquilo não iria terminar tão cedo.
Matheus estava sentado sozinho em uma das mesas ao fundo da sala, seu rosto sendo iluminado pela tela do notebook a sua frente. Assim que me aproximei ele levantou o olhar, me encarando.
– Está atrasada! – ele disse emburrado e voltou a digitar os dados no computador. Puxei uma das cadeiras ao seu lado e me sentei.
– Desculpe! – respondi sem me abalar e peguei os relatórios sobre a mesa. – Em que dia da semana está? Posso colocar meus dados depois se for te atrapalhar. – Ele me olhou de soslaio e soltou um sorriso irônico.
– Se fosse para cada um fazer o seu relatório não precisávamos nos encontrar toda semana. – Fechei a cara o encarando. Nossa relação tinha melhorado muito nos últimos tempos, porém ainda hoje havia momentos como esse onde acabávamos nos estranhando. – Ou talvez você só queira uma desculpa para ficar a sós comigo – ele completou sem tirar os olhos de mim. Senti meu rosto corar.
– Não seja idiota! Quem está dizendo que temos que fazer o relatório juntos é você, talvez não seja eu quem queira uma desculpa para nos encontrarmos! – disse virando a cara e cruzando os braços, Matheus começou a rir fazendo com que sua covinha aparecesse.
– Vamos, me dê suas anotações que eu já insiro aqui junto com as minhas – ele disse ainda sorrindo, eu lhe passei os papéis sem dizer mais nada e dando por encerrado o assunto.
Assim que deixei a biblioteca fui para a sala de comunicação. Além de domingo ser o único dia na semana de folga ele também era o único em que podíamos nos comunicar com o mundo fora daquelas paredes, era o momento em que eu conseguia falar com meus pais e Rafael. A sala estava lotada, não havia nenhum terminal disponível, quando estava quase desistindo e calculando se ainda teria tempo para voltar mais tarde, Yvon, que estava em um dos terminais, acenou para que eu me aproximasse.
– Olá, Iris! Se quiser pode usar a minha máquina, já estou deslogando. – Ele fechou todas as telas e desconectou seu usuário, depois se levantou dando espaço para que eu me sentasse em seu lugar.
– Muito obrigada Yvon, você me salvou hoje! – disse já ocupando a cadeira. Ele sorriu um pouco encabulado e acenando um adeus deixou a sala. Esperei que fosse embora e voltei minha atenção para a máquina. Por que não queria funcionar? Estava normal até agora! – Que droga de computador! – resmunguei baixinho.
– Quer que eu dê uma olhada? – Não tinha visto que Peter estava ao meu lado, sorri para ele e dei espaço para que mexesse no meu terminal. Ele tentou algumas configurações, fechou alguns programas e por fim abriu a tela de login novamente. – Acho que agora irá funcionar – ele disse voltando para seu lugar e ajeitando os óculos.
– Obrigada! Você já é o segundo que me salva hoje – disse contente e ele enrubesceu. Acenei em agradecimento e fui me conectar com o mundo externo.
Passou pela minha cabeça pular o jantar daquela noite enquanto caminhava de volta para o meu quarto. Eu estava tão cansada que por mais que as refeições fossem um dos raros momentos em que conseguíamos reunir a equipe toda sem a obrigação de um treino e fossem muito prazerosas, a ideia de ficar quietinha no meu canto me soou um tanto quanto convidativa. Senti alguém esbarrando em mim e quase fui ao chão. Assim que consegui me equilibrar novamente olhei para ver quem é que tinha me atropelado. Enzo voltava correndo para me ajudar.
– Desculpe Iris! Estou tão apressado que não te vi. Está tudo bem? – Fiz que sim com a cabeça e ele soltou um sorriso despreocupado. – Que ótimo! Eu estou vendo os últimos detalhes da nossa noite de liberdade, por isso estava avoado. – Ele já tinha começado a fazer seu caminho de volta quando gritou: – Não vai esquecer que hoje teremos a grande votação, portanto nada de faltar ao jantar! – Droga! Tinha esquecido completamente que hoje teria a tal votação para ver em qual lugar comemoraríamos nossa noite fora do complexo, e lá se iam meus planos pelo ar.
A votação não fora assim tão conturbada como achei que seria, houve algumas divergências de opinião, como Elissa e Josh, onde a primeira defendia a ideia de confraternizarmos em um lugar mais reservado e tranquilo enquanto o outro queria algo mais agitado, mas por fim a maioria concordou com Elissa e Josh, para a surpresa de todos já que ele sempre era um pouco esquentado, aceitou tudo numa boa. Deitada em minha cama pensei no treinamento físico que teríamos logo cedo no outro dia, eles sempre me causavam arrepios. O domingo finalmente acabara, mas a semana havia apenas começado. Suspirei cansada. Fora só mais um dia agitado, como outro qualquer, no complexo.
Yvon – 3 anos antes
A Estação Espacial era o mais próximo que Yvon poderia chamar de lar nos últimos tempos. Ele já estava estacionado naquela base há oito meses e ainda faltavam mais algumas semanas para que ele pudesse retornar a Terra. Conhecia tudo como a palma de sua mão, mas também não havia muito que explorar no local, já que, apesar de ser um laboratório de alta tecnologia em órbita baixa terrestre, não era um espaço tão grande ao ponto de alguém se perder, ainda mais se este estivesse vivendo ali por tanto tempo. Sua missão era basicamente desenvolver pesquisas que em Terra seriam mais difíceis ou mesmo impossíveis de se executar e passar esses resultados para a base de campo. Yvon amava o que fazia, sempre gostou da sensação de liberdade que sentia ao estar no espaço, nem mesmo reclamava de ter que trabalhar em conjunto com sua base, como muitos ali faziam, pois até nisso tivera sorte, afinal sua parceira em Terra era uma grande amiga e extremamente habilidosa. Mesmo que agora Elissa não estivesse em seu melhor momento, sua mãe havia sido diagnosticada com uma doença terminal e ela estava tendo que lidar com muita coisa ao mesmo tempo, ainda assim não a trocaria por nenhum outro.
A estação sempre contava com uma equipe de três membros que de tempos em tempos era substituída por uma nova com o mesmo número de pessoas. Quando essas trocas ocorriam, as duas equipes, nova e antiga, conviviam por alguns dias até que todos os procedimentos fossem passados e todas as tarefas organizadas. Nestas ocasiões o convívio acabava se tornando um desafio, afinal todo espaço tinha que ser divido para o dobro de tripulantes. Todos corriam contra o tempo no laboratório, em algumas semanas a nova equipe seria enviada e tudo tinha que estar alinhado para que esta conseguisse seguir com as pesquisas sem grandes esforços ou atrasos, era crucial que tudo estivesse funcionando e em perfeita ordem até sua chegada. Yvon adorava estar em órbita, mas já contava os dias para finalmente estar na Terra, sentia falta da família e dos amigos, já tinha até elaborado alguns planos para o seu retorno. Ele estava em sua estação de trabalho concentrado em finalizar alguns dos procedimentos que começara uns dias atrás, quando um dos rapazes foi até ele tentar debater dados de uma das pesquisas em que trabalhavam, no final este acabou desistindo da empreitada. Quando Yvon se concentrava em uma tarefa era como se imergisse nela e nada mais a sua volta existisse, era difícil de desviar o seu foco ou chamar sua atenção quando estava envolto em suas obrigações, ainda assim, um bipe fino soava insistente há algum tempo, tentando tirar sua concentração, parecia que todos resolveram falar com ele justamente no momento em que estava concentrado em sua tarefa. Yvon sabia que era uma chamada direta da base terrestre, mas apesar do barulho estar começando a irritá-lo ele decidiu por bem ignorar o alerta, estava em um momento importante de suas análises, retornaria quando estivesse desocupado. O toque continuou a persistir até que uma tela de vídeo chamada abriu automaticamente no seu monitor.
– Yvon Petrov? – Um senhor de meia idade vestido em um terno preto e com os cabelos grisalhos devidamente arrumados em gel apareceu em sua tela de trabalho. Yvon não fazia ideia de quem era o sujeito, não se lembrava de tê-lo visto na base de comandos nenhuma vez sequer. Onde estava Elissa? Ele confirmou a identidade acenando com a cabeça, ainda incerto sobre do que se tratava aquilo. – Sou Mikhail Bikov, gerente dos projetos internacionais da agência. Estamos com uma missão urgente e de extrema importância e queremos que você faça parte da equipe.
– Que tipo de missão? – Yvon perguntou interessado. O departamento internacional nunca o havia procurado antes.
– As informações são sigilosas, por isso os detalhes serão passados pessoalmente logo que você chegar à base. – Yvon acenou concordando.
– Tudo bem. Estou voltando em algumas semanas, assim que estiver em Terra procuro o departamento internacional e…
– Não, já organizamos tudo para o seu retorno. Não conseguimos adiantar toda a tripulação, mas o seu substituto já está sendo enviado para a estação. – Yvon olhou surpreso para o homem que estava em sua tela. – Estamos no seu aguardo, Sr. Petrov, nos vemos dentro em alguns dias.
Elissa – 3 anos antes
Fechou as cortinas, mas mesmo assim deixou a janela entreaberta. Era raro fazer um dia tão bonito quanto aquele e queria aproveitar ao máximo o calor do Sol, porém sabia que a luz incomodava sua mãe. Elissa colocou a bandeja que trouxera consigo sobre a mesa, pegando uma colher do mingau na cumbuca e soprando com a boca para esfriar. Ajeitou para que a enferma ficasse sentada e com cuidado colocou a comida em sua boca, limpando com um pano a baba que eventualmente escorria.
– Desculpe-me o atraso Srta. Elissa, o trem teve uma falha e não consegui outro a tempo. – Uma senhora volumosa em roupas brancas e os cabelos bem presos em um coque alto entrava no quarto. – Deixe que eu termine isso para você – ela disse pegando a cumbuca das mãos da outra mulher e tomando seu lugar. Elissa foi até a porta.
– Não se preocupe com o atraso Kátia, fiquei sabendo da situação pelo noticiário. – Ela olhou de soslaio para a acamada e suspirou. – Hoje está um pouco mais difícil que nos outros dias para alimentá-la – ela completou tristonha, a enfermeira a olhou com ternura e acenou positivamente com a cabeça. – Preciso ir trabalhar. Qualquer novidade, por favor, me ligue.
Elissa não conseguia colocar os pensamentos em ordem, estava com a mente confusa e desatenta. Sabia que não podia continuar assim, tinha que arranjar um jeito de estar de volta ao jogo, coisas importantes dependiam dela naquele momento e era crucial que estivesse ali por inteira. A troca de equipes da estação espacial ocorreria em breve e ela ainda tinha muito que fazer para que isso acontecesse, não podia mais ficar naquela inércia.
– Desculpe! – Ela se ajeitou do trombo que dera no homem, não tinha percebido que ele vinha em direção oposta a sua no corredor. – A culpa foi toda minha, eu estava distraída e… – Elissa olhou para o rapaz alto de cabelos cor de fogo que sustentava aquele sorriso contido no rosto e lhe era tão familiar. – Yvon? Já voltou? Ah, Meu Deus! A equipe toda está aqui? Eu não acredito que eu me perdi no prazo e… – O homem a abraçou, interrompendo o seu histerismo.
– Já faz um tempo, não é mesmo Elissa? – ele disse apertando-a mais forte e depois a soltou. – Não se preocupe, eu voltei antes, tenho certeza que você ainda está dentro do prazo, nunca nos deixou na mão antes. – Ela soltou um sorriso débil, sem saber direito o que responder. – Parece que há um novo projeto que querem me colocar e estão com urgência, estou indo saber dos detalhes agora, mas pelo jeito será algo importante. – Elissa olhava abobada para o amigo, não prestava muita atenção ao que ele dizia. Apesar de estar feliz em revê-lo ficou com medo de que estivesse sendo indiferente a sua presença. – Bem, eu tenho que ir! Vamos nos encontrar mais tarde para colocar o papo em dia?
– Claro! Muito bom te ver Yvon – foi o que conseguiu responder. Por sorte parecia que Yvon não havia se importado com os seus modos, pois ele soltou um sorriso carinhoso antes de voltar a fazer o seu caminho, levando Elissa a fazer o mesmo. Quando já estavam afastados Yvon olhou uma última vez para a amiga e parou.
– Elissa… – Ela virou para trás ao escutar o seu nome. Ele a analisou por um tempo antes de continuar. – Como ela está? – finalmente soltou a pergunta e a amiga somente balançou a cabeça com um olhar triste, Yvon entendeu na mesma hora o que estava acontecendo. – Me avise se tiver algo que eu possa fazer por você! – Ela sorriu e não disse mais nada. Os dois voltaram a fazer os seus caminhos.
Naquela mesma noite a doença venceu a longa batalha contra a mãe de Elissa. Há um ano ela tinha sido diagnosticada com um tipo raro de câncer no pâncreas que lhe deu mais seis meses de vida. Ela lutou com bravura, até mesmo conseguiu ultrapassar as expectativas que lhe foram estipuladas, mas a doença foi implacável e quando viu que não teria mais condições de ganhar seu único pedido fora ter seus últimos dias no aconchego de seu lar. Elissa tirou alguns dias de licença após a morte da mãe, mas acabaram lhe pedindo para voltar antes em caráter de urgência. Todos que a encontravam no corredor diziam que sentiam muito e pediam desculpas por ela ter que trabalhar naquele momento, contudo ela achava que estavam lhe fazendo um favor, era muito melhor ter a mente ocupada naquele momento do que ficar em casa remoendo os acontecimentos. Uma das meninas que trabalhava no setor de tecnologia a chamou dizendo que alguns membros da diretoria a aguardavam na sala de reuniões. Elissa não sabia o que esperar do encontro, tinha consciência de que estava com alguns dos trabalhos mais importantes atrasados, porém todos sabiam da sua situação. Além disso, já havia se programado para entregá-los o quanto antes, não havia motivos para ser repreendida.
Ela olhava petrificada para todos os ocupantes da sala e ficou assim por algum tempo. Yvon pigarreou quebrando o silêncio.
– É muita coisa para ela processar no momento, com tudo o que aconteceu… – ele tirou os olhos da amiga e se voltou para a diretoria. – Podemos dar alguns dias para ela pensar no assunto? – ele completou. Na mesma hora a loira balançou a cabeça negando. Aquilo era loucura, uma insanidade, e era justamente o que precisava. Acordou do torpor e fixou o olhar no amigo.
– Estou dentro. Quando partiremos?
Louis – 3 anos antes
– Alguém tem mais alguma pergunta? – Louis disse virando-se para a plateia de alunos que o assistia. Ainda estava atordoado com o telefonema que recebera cedo naquele dia, jamais teria imaginado que lhe fariam uma proposta daquelas em qualquer momento que fosse de sua vida, ainda mais agora. Uma garota magra, de cabelo curto e bagunçado, vestida em uma camiseta do Deep Purple levantou a mão. Ele apontou para ela sinalizando para que prosseguisse e tentou esvaziar sua mente se concentrando na dúvida de sua aluna.
Louis se surpreendeu ao ver que o horário do término da aula já tinha acabado, o assunto questionado acabou levando mais tempo do que ele havia esperado, o que era ótimo, afinal aquilo o havia feito esquecer de qualquer outra coisa que estivesse em sua cabeça. Enquanto ele arrumava o material dentro de sua maleta, os alunos iam se levantando e já se amontoavam na porta da sala para deixar o recinto.
– Ah… não esqueçam que semana que vem é o prazo final para a entrega do trabalho, ele vale a nota do semestre!
Alguns presentes sinalizaram concordando com a cabeça, mas a grande maioria já tinha ido embora. Alguns poucos ainda estavam aglomerados na saída, porém nenhum deles deu um sinal qualquer de que o tinham escutado. Algo do lado de fora atraia suas atenções e rendia muitos olhares e cochichos. Louis terminou de colocar seus livros dentro da maleta, pendurou esta em seu ombro e encaminhou-se até a porta. Do lado de fora, uma mulher de cabelos longos ondulados e pretos com olhos azuis estava recostada com um de seus ombros na parede, mexendo em seu celular, completamente alheia aos olhares dos jovens que passavam por ela. Destoava de todo o cenário ao seu redor, não era à toa que estava chamando tanta atenção. Parecia que tinha saído de uma capa de revista de moda. O professor chamou a atenção de seus alunos até que todos deixassem o local, depois voltou sua atenção para a mulher.
– Adeline? O que faz aqui? – A moça levantou o olhar do celular pela primeira vez até então, sua boca se abrindo em um leve sorriso.
– Finalmente! Achei que essa aula não teria fim. – Louis balançou um pouco a cabeça em negativa soltando um leve suspiro. Tanto tempo sem se verem e era isso que ela tinha para falar a ele? Adeline o agarrou pelo braço e o puxou corredor adentro, abrindo caminho por entre os alunos em direção à praça de alimentação. – Precisamos conversar.
O francês olhava fixamente para a moça sentada a sua frente, simplesmente não sabia como reagir ao que ela estava dizendo. Já fazia muito tempo que não a via, eram muito próximos na infância, mas eles tomaram caminhos diferentes na vida e isso acabou os afastando pouco a pouco. Nunca imaginou que Adeline pudesse vir até sua universidade só para encontrá-lo, então foi uma surpresa quando a viu parada a sua porta, sabia que algo sério estava acontecendo. Ainda não tinha decidido se ficava mais surpreso com a visita ou com o fato de ela ter recebido a mesma proposta que ele. Não, definitivamente o mais estranho em tudo aquilo era Adeline estar realmente considerando a possibilidade de fazer parte daquele projeto. Sempre passara longe do perfil aventureira e a ideia de uma pessoa como ela estar envolvida em algo como aquilo era surreal para ele. Deu de ombros. Não estava em posição de julgar ninguém, afinal ele mesmo não se considerava apto para tal situação. Adeline levantou-se, recostando a cadeira e levando consigo a lata do suco que tomava.
– Eu sei que você tem uma mulher e filhos, mas pense bem Louis, é uma oportunidade única de autopromoção. – Adeline piscou para ele.
– E para que eu iria querer isso, Adeline? Minha vida é muito diferente da sua e eu estou feliz com o jeito que ela é agora. Admito que o convite seja tentador, mas como você bem lembrou eu tenho uma família, não posso me dar ao luxo. – Ela olhou para ele com seriedade, seu olhar quase suplicante. Louis sentiu uma pontada de culpa, mas logo tentou afastá-la. – Você não precisa de mim para isso, Adeline, alias não precisa de ninguém para nada – ele disse com todo o carinho que tinha por ela. – Se isso é importante para você, vá, te dou total apoio! Eu mesmo já teria aceitado se as circunstâncias fossem outras.
– Não consigo sozinha – ela disse baixo. Louis a olhou com desconfiança, tinha certeza que tinha escutado errado, aquela não era a Adeline que conhecia. – Não tenho estômago para fazer algo desse porte sozinha, Louis. Preciso de você! – Ela continuava de cabeça baixa, sem encará-lo. Parecia ser uma tortura admitir sua vulnerabilidade. Ele não sabia o que dizer. Adeline respirou fundo e jogou os cabelos para trás, quando olhou para ele estava com um sorriso no rosto como se nada tivesse acontecido. – É uma grande oportunidade. E outra, conheço esse povo, trabalho com eles há anos! Vivem no mundo da lua. Esse projeto não irá para frente, acabará sendo somente umas férias nos Estados Unidos. Não me diga que não está precisando de uma? – Ela piscou novamente para o francês. Ele continuou a olhá-la, sem responder. Ela pegou sua bolsa e colocou a lata de volta em cima da mesa. – Pense com carinho e me ligue quando resolver – disse deixando Louis sozinho no restaurante.
Louis passou o jantar inteiro calado, pensando em tudo que acontecera naquele dia. Levou as crianças para o quarto e as colou para dormir, contando uma historinha de ninar. Cobriu cada um deles, beijou suas testas e, dando uma última olhada, apagou a luz deixando o quarto. Sua mulher estava sentada no sofá assistindo televisão, Louis sentou ao seu lado a abraçando.
– Ainda está com aquele telefonema na cabeça? – ela perguntou se aconchegando em seu peito.
– Adeline foi me procurar na universidade hoje. Ela também foi convidada a fazer parte do projeto e insistiu muito para que eu a acompanhasse. – A mulher levantou de leve a cabeça para encará-lo, uma sobrancelha levantada.
– Por essa eu não esperava! – ela confessou, depois ficou um tempo observando o semblante do marido. – Sei como tudo isso mexeu com você, querido. Talvez a aparição de Adeline seja o impulso que faltava para você aceitar o convite. A universidade tem um acordo com os organizadores do projeto, não é mesmo? – Louis acenou com a cabeça afirmando. – Está vendo? Parece que tudo quer que você diga sim.
– Eu não posso deixar você e as crianças por tanto tempo! E além de tudo é algo muito perigoso – ele falou com a voz carregada de dúvidas, estava muito dividido sobre o que faria. A mulher se levantou e pegou seu rosto entre as mãos.
– Qualquer coisa é perigosa Louis, você pode sair amanhã para trabalhar e não voltar mais! Estou vendo o quanto você quer isso e eu te amo por sempre pensar em sua família, mas não se prenda por nossa causa. Eu sentirei muito sua falta e as crianças também, mas estaremos exatamente aqui quando voltar, te esperando. Então siga seu coração e nos deixe orgulhosos! – ela disse com um dos braços levantados com se estivesse torcendo por ele. Louis puxou-a para si e lhe deu um longo e apaixonado beijo. Quando se soltaram ele se levantou sobressaltado, a adrenalina corria por suas veias.
– Tenho que ligar para Adeline.
Adeline – 3 anos antes
Ela corria apressada para conseguir chegar a tempo ao evento que estava marcado para o final daquela tarde. O salto agulha não ajudava no processo, mas também, quem é que poderia imaginar que ela iria ter que resolver tanto problema justo naquele dia? Teria uma conversa séria com a sua assistente, se ela não tomasse jeito depressa, teria que se desfazer dela. Adeline bufou. Só naquele ano já tinham passado quatro assistentes pelas suas mãos e nenhuma conseguiu manter o emprego, pelo jeito a quinta também já estava na corda bamba. Praguejou em silêncio quando uma senhora com um cachorro na coleira atrapalhou seu caminho. Não entendia o porquê das pessoas terem que passear com seus animais justamente ali e naquele horário. Os parques serviam para quê mesmo? Pelo amor de Deus! Esperou batendo o pé impaciente no chão enquanto o farol de pedestres continuava vermelho. Hoje era um daqueles dias que não deveria ter levantado da cama! Olhou para cima e soltou um sorriso, seu humor instantaneamente melhorado, estava encarando sua própria foto no outdoor do alto do prédio da esquina. Aquela peça tinha sido liberada há pouco tempo e ela ainda não havia visto o resultado. Ficou impressionada, não achou que ficaria tão bom!
Era Adeline quem organizava todos aqueles eventos para o Instituto de Pesquisas Espaciais e era ótima no que fazia, mesmo que, no fundo, ela mesma achasse todos eles muito maçantes. A instituição estava investindo muito nos últimos anos em publicidade visando angariar mais notoriedade para o meio e com isso melhores investidores, foi quando contrataram Adeline que da noite para o dia virou a voz e o rosto daquele lugar, tudo devido a sua aparência e ao seu trabalho excepcional como relações públicas. Ela não entendia nada sobre o que faziam e nem se importava com isso, com tanto que continuassem a manter seu salário gordo e suas regalias continuaria trabalhando satisfeita.
– Adeline, isso está ótimo! Você realmente sabe como dar uma festa – disse uma mulher com cabelos loiros compridos e muito escorridos enquanto se aproximava. Sophie era a única pessoa naquele lugar que Adeline considerava sua colega. Aproximou-se com elegância da loira e sussurrou discretamente em seu ouvido.
– Se você está animada com isso, se prepara para a festa de verdade mais tarde! – Adeline piscou para Sophie e se afastou, abrindo um sorriso largo quando cumprimentou o trio de americanos que estava junto com o seu gerente, ela tinha que deixar sua marca, afinal os estrangeiros era o motivo para todo aquele evento.
Sua cabeça latejava. Escutou um ronco baixo, olhou para o lado e viu um homem dormindo ao seu lado com a maior parte do seu corpo a mostra, somente uma parte pequena coberta pelo lençol claro e fino. Tentou se lembrar do que tinha acontecido na noite anterior, mas suas memórias eram falhas. Sabia que tinha saído do evento com Sophie e que as duas tinham ido direto para uma balada vip, onde Adeline como sempre, havia conseguido colocá-las para dentro, depois disso não se lembrava de mais nada. Vestiu-se silenciosamente, pegou os sapatos nas mãos e andou de fininho até a porta. Antes de sair olhou mais uma vez para o estranho. Não era a primeira vez que acordava em companhia alheia e não seria a última, mas neste momento não sentia vontade de manter contato com aquele rapaz, então simplesmente abriu a porta e saiu, sem deixar nenhum sinal de sua existência no local.
– Adeline, o Jean pediu para que você fosse à sala dele assim que chegasse. – Ela olhou emburrada para a sua assistente, não estava com humor para o seu gerente logo cedo, ainda mais naquelas condições.
– Avise-o que estarei lá em alguns minutos. – Sua assistente já saia da sala quando Adeline a chamou novemente. – Ah, Marie, depois teremos que conversar sobre o que aconteceu ontem – ela disse incisiva, sua assistente engoliu em seco antes de se retirar.
Adeline ainda olhava incrédula para Jean, como ele poderia estar propondo aquilo para ela? Tinha um limite de onde chegaria por aquele emprego e ele tinha ultrapassado todos. Ir para um fim de mundo qualquer dos Estados Unidos e ficar isolada por não sei quanto tempo com um monte de gente estranha como aquele pessoal do instituto? Era um disparate! Isso porque ela nem estava contando com a outra parte do plano, porque simplesmente julgou ser só uma fantasia daquele pessoal.
– Vamos Adeline, por favor! Tem que ser você – Jean insistia e a francesa continuava balançando a cabeça negativamente. – Pense em quanta fama não irá ganhar com isso, como única representante de nosso país.
Adeline parou de balançar a cabeça e olhou para seu gerente, seus olhos brilhando ligeiramente, Jean tinha acertado em cheio quando usou a palavra “fama” em seu argumento.
– Única representante? – De repente aquela ideia não parecia tão maluca assim, não podia negar que naquelas condições tudo aquilo seria ótimo para seu marketing pessoal. Jean sorriu sem jeito.
– Tudo bem, não será a única… – O sorriso de Adeline se desfez e Jean rapidamente tentou contornar a situação. – Mas aquele professorzinho não vai ser nada perto do seu brilho Adeline, acredite em mim.
– Professor?
– Sim, um tal de Louis Blanc, parece que ele dá aulas na Universidade de Paris. – Adeline arregalou os olhos surpresa, seu chefe achando que aquilo era mais uma negativa se adiantou. – Está vendo? Não tem com o que se preocupar, ele será invisível ao seu lado e…
– Eu vou – Adeline disse cortando Jean no meio da frase e já se levantando para sair do aposento, dando como encerrada a conversa. O homem a olhou estupefato.
– Vai? – ele disse em dúvida, achou que a tinha perdido novamente quando mencionou que faria parceria com um professor universitário qualquer.
– Sim – respondeu com convicção e Jean soltou um suspiro aliviado. – Mas antes tenho que conversar com Louis sobre o assunto – ela continuou indiferente e depois deixou a sala sem esperar por uma resposta.
