Assim como minhas comemorações irmãs, Natal, Carnaval e Páscoa, eu sou antiga e minhas origens são além do cristianismo. Festas juninas, apesar de carregarem outros nomes, já eram muito comuns em grande parte do hemisfério norte. A época do solstício de verão na região sempre fora motivo de celebração, pois com a promessa de dias mais longos e quentes, era tempo de pedir por fertilidade e fartura nas colheitas. Mesmo com a ascensão do cristianismo na Europa, eu não perdera minha força e, não querendo entrar em confronto com o que era popular, a igreja acabou me incorporando em seu calendário, homenageando assim, os três santos de sua crença dentro do mês: Santo Antônio, São João Batista e São Pedro.
Cheguei ao Brasil junto com os jesuítas portugueses, mas o mais curioso foi ver que os indígenas que aqui habitavam já faziam comemorações muito parecidas com as minhas na mesma época, mesmo que estas, no hemisfério sul, marcassem o início do inverno. As tradições fundiram-se e foi por isso que uma festa onde se celebra santos católicos acabou tendo em sua composição comidas tão típicas da região. Outra característica importante em minhas festas a qual surgiu nesse mesmo período foram as vestimentas caipiras, pois eram roupas comuns da época, já que a grande maioria da população brasileira de meados do século XX morava nos campos. Hoje, as minhas maiores comemorações concentram-se no nordeste do país, com destaque para as cidades de Caruaru – PE e Campina Grande – PB.
Na verdade eu sou uma festa de muitas misturas, alguns dos meus mais tradicionais rituais vieram de diferentes partes do mundo. A quadrilha, por exemplo, teve a influência das contradanças francesas de salão do século XVII. Apesar das minhas festas mais remotas já contarem com danças e cantos, os passos em pares com uma sequência coreografada se popularizou tanto que acabou sendo incorporado as festas juninas, tornando-se o que vemos hoje. As fogueiras já eram presentes nas celebrações pagãs e indígenas, porém as mesmas também receberam uma explicação cristã, pois Santa Isabel, mãe de um dos aniversariantes do mês, João Batista, disse a Maria que acenderia uma fogueira quando o mesmo nascesse para avisá-la e assim foi feito. A tradição de soltar balões, assim como os fogos, veio da China; e há tantas outras de outros lugares que nem me lembro mais. Hoje tenho variações de acordo com a região onde sou comemorada, porém continuo mantendo sempre as minhas raízes.
Então prepare a pipoca, o bolo de fubá, o amendoim e a paçoca. Aqueça o quentão e o vinho quente. Acenda a fogueira e pendure as bandeirinhas. Vista-se ao melhor modo caipira e coloque o seu chapéu. Chame seu par para dançar e solte o som da sanfona, pois já é época de comemorar minhas festas juninas.