Série profissões: O Ascensorista

A vida de José era subir e descer o dia inteiro dentro daquele cubículo. Já havia passado por outros empregos ao longo de sua existência, porém, fora ali, naquele ambiente minúsculo, que escolhera terminar os seus dias como empregado. Era um prédio antigo, com toda a pompa e luxo que só uma construção do século passado consegue oferecer. E ele agradecia por isso já que sua profissão era algo em extinção, afinal, quem é que precisa de ascensor para apertar um botão?

Há quem diga que isso não é vida, ficar o dia todo para baixo e para cima carregando pessoas desconhecidas. Porém, era justamente disso que José mais gostava. Famílias inteiras moravam ali. Com seus filhos, netos, bisnetos, amigos, esposas, maridos, amantes e tantos outros conhecidos passando por aqueles elevadores noite e dia. Sabia de suas histórias e emoções; coisas que eram contadas ou que ficavam subentendidas.

A mãe solteira do terceiro andar que saia cedo para deixar sua filha na escola antes de ir para a empresa; o senhor do quinto, o qual sempre reclamava que estava cansado, mas toda manhã lá estava ele, vestido em seu terno para ir trabalhar; a jovem senhora do segundo, que todas as terças e quintas-feiras saia à tarde para suas atividades no clube da terceira idade. Crianças que desciam para brincar e jovens a fim de namorar. Havia o garoto do oitavo, o qual todos diziam ser vagabundo, pois ninguém o via sair para trabalhar, mas todos o escutavam voltar de suas noitadas. Contudo, José sabia, que na verdade, o rapaz passava suas noites desenvolvendo o ofício de segurança em uma boate a fim de juntar dinheiro para pagar sua faculdade. Era tanta gente em seus vaivéns que alguns poderiam se tornar indiferentes, mas não aquele ascensorista.

– Bom dia, Sr. José! Como vai a família?

– Muito bem, obrigado, Dona Maria.

Era noite na cidade e José finalmente havia chegado em casa, depois de um longo dia de trabalho. Abriu a porta da frente e seu cachorro correu fazer festa para recebê-lo. Acariciou e brincou um pouco com o danado, antes de ir à cozinha fazer sua refeição. Após o jantar, se acomodou em sua poltrona para assistir um pouco de televisão. Fora o som do aparelho, tudo estava em silêncio. Acabou pegando no sono e, quando foi ver, quase passou no assento até o amanhecer. Levantou-se e foi para o quarto. Antes de voltar a dormir, pegou o porta-retratos           com a foto de sua falecida esposa na cômoda ao lado da cama.

– Boa noite, minha querida!

Mas que ironia! Por passar o tempo subindo e descendo sem parar, José conhecia a todos que no prédio moravam. Porém, mesmo que estivesse sempre no mesmo lugar, poucos sabiam sobre sua vida mencionar.

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