Já estava me acostumando a acordar com as batidas incessantes de Alexia na minha porta nas manhãs de domingo. Desde a primeira semana no complexo fora assim e até hoje não falhara. Fui até a entrada e abri a porta, lá estava ela parada em suas roupas esportivas com um sorriso de orelha a orelha no rosto.
– Hoje eu não precisei gritar seu nome por horas até que você me atendesse? As coisas estão evoluindo por aqui! – ela comentou soltando um sorriso e já entrando em meu quarto. Dei risada também, nunca adiantava ficar de mau humor com Alexia, ela simplesmente me ignoraria se assim o fizesse.
– Quem tem uma amiga como você não precisa de despertador, Alexia – respondi. Ela deitou na cama e jogou o travesseiro em mim.
– Vai logo se arrumar! Estou prevendo mais suor hoje do que qualquer treinamento físico que tivemos durante a semana. – Fiz uma careta para ela jogando o travesseiro de volta e entrei no banheiro.
Domingo era o único dia livre na semana em nossa rotina de treinamentos, mesmo assim eram raros aqueles em que eu realmente tinha o dia inteiro só para mim. Todas as manhãs Alexia me buscava para fazer uma caminhada pelos arredores do complexo e, apesar de esportes em geral nunca terem sido um dos meus hobbies favoritos, aquelas andanças com ela acabavam se revelando muito divertidas, pois cada dia descobríamos algo novo sobre a propriedade. Nós andamos por mais de duas horas debaixo daquele sol escaldante do Texas, quando me despedi de Alexia só queria tomar um banho e ler algum dos meus livros até a hora do almoço, porém me deparei com Helder e Sakura me esperando na porta de meus aposentos.
– Aconteceu alguma coisa? – perguntei um pouco confusa enquanto me aproximava.
– Eu falei para você que ela tinha esquecido! – a japonesa disse olhando para Helder, depois se voltou para mim. – Nós íamos nos encontrar para definir algumas estratégias para os treinamentos da próxima semana, não se lembra? – Meu rosto enrubesceu no mesmo instante. Como eu poderia ter esquecido daquilo? Helder se aproximou e deu alguns tapinhas em meu ombro.
– Não se preocupe! Está livre agora? Tenho certeza que terminamos tudo antes do almoço. – Acenei com a cabeça e ele piscou para mim. Logo em seguida Helder se virou e começou a andar, fui atrás dele com Sakura correndo ao meu lado.
Sai do refeitório direto para o meu quarto tomar um banho. Que dia! Desde que acordara não tinha parado um minuto sequer e para meu infortúnio não seria agora que esta situação iria mudar, estava quase no horário em que Matheus e eu nos encontrávamos para desenvolver o relatório semanal do Instituto. A biblioteca era uma sala ampla com vários computadores de consulta e mesas redondas para estudos em grupos. Assim que entrei vi Kazuki, Louis e Adeline ocupando uma das mesas com livros e cadernos espalhados por todos os lados.
– Boa tarde! – sussurrei ao me aproximar. Louis e os outros levantaram os olhos dos cadernos.
– Ah, boa tarde, Iris! Veio estudar também? – Louis perguntou abrindo um sorriso simpático. As avaliações finais estavam chegando e muitos de nossa equipe estavam se preparando para elas. Adeline bufou para o primo.
– É claro que não Louis! Você não sabe que ela encontra todo domingo com Matheus para fazer sei lá o quê? – Sua frase soou um tanto irritada e estranhamente aquilo me deixou satisfeita. Adeline virou para o lado me ignorando. – Kazuki, me explique novamente isso aqui e vê se dessa vez faz direito, não dá para entender nada do que você fala! – Ela empurrou um dos livros na direção do japonês. Louis pareceu ficar irritado.
– Adeline, seja educada, ele está nos fazendo um favor. E fale mais baixo, estamos em um local de estudo. – A francesa ignorou os avisos do primo e ele contrariado somente balançou a cabeça.
– Sakura está vindo estudar conosco, talvez ela consiga lhe explicar melhor – Kazuki respondeu tentando se desculpar. Me despedi dos três antes que eu acabasse discutindo com Adeline e deixei com que continuassem com seus estudos, afinal parecia que aquilo não iria terminar tão cedo.
Matheus estava sentado sozinho em uma das mesas ao fundo da sala, seu rosto sendo iluminado pela tela do notebook a sua frente. Assim que me aproximei ele levantou o olhar, me encarando.
– Está atrasada! – ele disse emburrado e voltou a digitar os dados no computador. Puxei uma das cadeiras ao seu lado e me sentei.
– Desculpe! – respondi sem me abalar e peguei os relatórios sobre a mesa. – Em que dia da semana está? Posso colocar meus dados depois se for te atrapalhar. – Ele me olhou de soslaio e soltou um sorriso irônico.
– Se fosse para cada um fazer o seu relatório não precisávamos nos encontrar toda semana. – Fechei a cara o encarando. Nossa relação tinha melhorado muito nos últimos tempos, porém ainda hoje havia momentos como esse onde acabávamos nos estranhando. – Ou talvez você só queira uma desculpa para ficar a sós comigo – ele completou sem tirar os olhos de mim. Senti meu rosto corar.
– Não seja idiota! Quem está dizendo que temos que fazer o relatório juntos é você, talvez não seja eu quem queira uma desculpa para nos encontrarmos! – disse virando a cara e cruzando os braços, Matheus começou a rir fazendo com que sua covinha aparecesse.
– Vamos, me dê suas anotações que eu já insiro aqui junto com as minhas – ele disse ainda sorrindo, eu lhe passei os papéis sem dizer mais nada e dando por encerrado o assunto.
Assim que deixei a biblioteca fui para a sala de comunicação. Além de domingo ser o único dia na semana de folga ele também era o único em que podíamos nos comunicar com o mundo fora daquelas paredes, era o momento em que eu conseguia falar com meus pais e Rafael. A sala estava lotada, não havia nenhum terminal disponível, quando estava quase desistindo e calculando se ainda teria tempo para voltar mais tarde, Yvon, que estava em um dos terminais, acenou para que eu me aproximasse.
– Olá, Iris! Se quiser pode usar a minha máquina, já estou deslogando. – Ele fechou todas as telas e desconectou seu usuário, depois se levantou dando espaço para que eu me sentasse em seu lugar.
– Muito obrigada Yvon, você me salvou hoje! – disse já ocupando a cadeira. Ele sorriu um pouco encabulado e acenando um adeus deixou a sala. Esperei que fosse embora e voltei minha atenção para a máquina. Por que não queria funcionar? Estava normal até agora! – Que droga de computador! – resmunguei baixinho.
– Quer que eu dê uma olhada? – Não tinha visto que Peter estava ao meu lado, sorri para ele e dei espaço para que mexesse no meu terminal. Ele tentou algumas configurações, fechou alguns programas e por fim abriu a tela de login novamente. – Acho que agora irá funcionar – ele disse voltando para seu lugar e ajeitando os óculos.
– Obrigada! Você já é o segundo que me salva hoje – disse contente e ele enrubesceu. Acenei em agradecimento e fui me conectar com o mundo externo.
Passou pela minha cabeça pular o jantar daquela noite enquanto caminhava de volta para o meu quarto. Eu estava tão cansada que por mais que as refeições fossem um dos raros momentos em que conseguíamos reunir a equipe toda sem a obrigação de um treino e fossem muito prazerosas, a ideia de ficar quietinha no meu canto me soou um tanto quanto convidativa. Senti alguém esbarrando em mim e quase fui ao chão. Assim que consegui me equilibrar novamente olhei para ver quem é que tinha me atropelado. Enzo voltava correndo para me ajudar.
– Desculpe Iris! Estou tão apressado que não te vi. Está tudo bem? – Fiz que sim com a cabeça e ele soltou um sorriso despreocupado. – Que ótimo! Eu estou vendo os últimos detalhes da nossa noite de liberdade, por isso estava avoado. – Ele já tinha começado a fazer seu caminho de volta quando gritou: – Não vai esquecer que hoje teremos a grande votação, portanto nada de faltar ao jantar! – Droga! Tinha esquecido completamente que hoje teria a tal votação para ver em qual lugar comemoraríamos nossa noite fora do complexo, e lá se iam meus planos pelo ar.
A votação não fora assim tão conturbada como achei que seria, houve algumas divergências de opinião, como Elissa e Josh, onde a primeira defendia a ideia de confraternizarmos em um lugar mais reservado e tranquilo enquanto o outro queria algo mais agitado, mas por fim a maioria concordou com Elissa e Josh, para a surpresa de todos já que ele sempre era um pouco esquentado, aceitou tudo numa boa. Deitada em minha cama pensei no treinamento físico que teríamos logo cedo no outro dia, eles sempre me causavam arrepios. O domingo finalmente acabara, mas a semana havia apenas começado. Suspirei cansada. Fora só mais um dia agitado, como outro qualquer, no complexo.